Sou sombra em mim. Não me toques! Tenho o dom da destruição, a começar por mim. Não te enganes com as aparências. Há janelas que colocam cortinados coloridos só para o lado de fora. Não me vejas por dentro. Vais desiludir-te por entre escadarias frias que não levam a nada. Não te percas em me decifrar. Melhor seria leres o livro que adias há algum tempo e que te ensina a amar. Não esbanjes tempo em campos áridos. As flores não rebentam em terra seca nem a água a quer para a desbravar. Não te prives da luz que o mundo te oferece e arranca as cadeias que te fazem vagabundear. Sou sombra, espetro que desempossa os outros da felicidade; não me persigas! Por isso, emerge, solta em golfadas a água que te impede de respirar e cruza o oceano, para longe deste lugar. - Sou sombra, já te disse. Busca o sol, deixa-me só a mim, assim, a eclipsar. (Celina Adro Morgado Seabra) Coimbra
Pensamentos em forma de poesia