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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2016

VIAGEM

Passam árvores, Passam montes, Passam arbustos: endemismos, tojos, giestas, espargo bravo, pinheiros mansos e sobreiros… Passam terrenos áridos, queimados pelo sol abrasador de um dia de verão, Passam outros, verdejantes e da cor do limão… E ainda os que estão da cor do carvão. Passam carros, Passam carros, Passam carros… Cinzentos, pretos, brancos, vermelhos e até amarelos, Todos correm , Todos passam , Todos se apressam desafiando o tempo. Passam sinais de trânsito, Uns de obrigatoriedade, outros informativos. Passam pontes, Passam aldeias, vilas e cidades  E avançam pelo alcatrão. Com a pressa que vão Subiriam um torreão! Usam a buzina, Os piscas, Viram para a direita, Para a esquerda,  recuam e fazem um pião! De novo a estrada, de novo o alcatrão que fumega de tanta confusão. Passa o dia, Passa o calor, a exaustão. Cai a noite, ligam as luzes Para iluminar a escuridão. Lá dentro, Uns falam alto, barafustam ou...

DRAGÃO DE FOGO

Um gigantesco  incêndio  lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima,  serpenteia  o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem  avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...

Prazer

O som do mar, esta noite, tomou posse de mim. Entrou de mansinho, enroscou-se  no meu corpo e embalou o meu sono intranquilo. Sussurrou-me ao ouvido histórias de mundos longínquos, misteriosos, distanciados da memória dos homens. Seduziu-me com notas musicais que só os seres marinhos são capazes de entoar. Transportou-me para o Luar que se espelha na mancha mágica onde ele é Rei e Senhor, embriagando-me de mil prazeres… Fez-me sua e num êxtase de ensandecer fez-me acreditar Que é possível o prazer. ( Celina Seabra)

VAZIO

Compra-se  amigo, Que esteja presente Mesmo à distância. Que precise de mim, Que sinta a minha ausência, Que não minta, Que me toque, Que me ache e me chame “ especial “, Que o prove e o comprove, Que não seja superficial. Que não fale só por falar, Que não atraiçoe até pelo olhar. Compra-se  amigo, Que me avise e aconselhe Que discuta comigo, contra-argumente e depois me abrace. Que viva comigo Momentos excecionais. Que de mim seja inseparável, Que me queira junto de si Que me convide e cumpra promessas. Que ria e me faça rir Que me trate por irmã ou prima muito chegada, Que una as suas mãos às minhas, Que troque comigo juras de sangue, Que envelheça comigo para não me sentir só. Que me preencha, como o último fragmento de um puzzle  - sem ele a imagem nunca estará completa… Compra-se  amigo, Que não me partilhe com os outros Que sinta ciúmes por mim Que não me afaste da sua fotografia de família Que p...

Mal me queres?

“ Malmequer Bem me quer Muito, pouco ou nada…” Malmequer… alguns. Bem me quer … alguns. Muito : 1, 2, 3, 4. Pouco… alguns. Nada: muitos! Por que me iludo? Porque fantasio? Por que quero acreditar? Fazem promessas… Não as cumprem. Fazem convites – bandeirolas de festa que a chuva e o vento levam- Esquecem-se. Dizem que me amam… Não o põem em prática. Procuram-me… E ajudo, abro a minha porta, “ dou com as duas mãos”… Malmequer, bem me quer, Muito, pouco … ,nada! Por que me iludo?

Reflexões...

Por que será que o mundo gosta de gente espalhafatosa, que os faça rir e despreza os que choram? Por que será que dão a mão mais depressa ao que veste bem e com relutância estendem-na ao maltrapilho, ao que cheira mal? Porque será que o consumismo cega os princípios daqueles que até já foram pobres ou remediados e de repente, porque enriqueceram ou porque " a vida lhes sorriu ", esquecem quem trabalha ou trabalhou para eles? Porque tem o HOMEM uma memória tão curta? Já os meus ancestrais me diziam: " nunca peças a quem te pediu, nem devas a quem já te deveu...", e não é que tem a sua lógica!? " Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades ", é verdade, Camões, mas o Mundo não mudou assim tanto na questão de princípios. O Dinheiro cega-nos; a Vaidade fascina-nos; a Fama quer alcançar-se a todo o custo, nem que para isso se espanque o outro ou lhe tirem toda a sua dignidade... A superficialidade aprecia-se; a boa aparência física, os sorrisos, as gargalhad...