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VIAGEM

Passam árvores,
Passam montes,
Passam arbustos: endemismos, tojos, giestas, espargo bravo, pinheiros mansos e sobreiros…
Passam terrenos áridos, queimados pelo sol abrasador de um dia de verão,
Passam outros, verdejantes e da cor do limão…
E ainda os que estão da cor do carvão.
Passam carros,
Passam carros,
Passam carros…
Cinzentos, pretos, brancos, vermelhos e até amarelos,
Todos correm ,
Todos passam ,
Todos se apressam desafiando o tempo.
Passam sinais de trânsito,

Uns de obrigatoriedade, outros informativos.
Passam pontes,
Passam aldeias, vilas e cidades
 E avançam pelo alcatrão.
Com a pressa que vão
Subiriam um torreão!
Usam a buzina,
Os piscas,
Viram para a direita,
Para a esquerda,
 recuam
e fazem um pião!
De novo a estrada, de novo o alcatrão que fumega de tanta confusão.
Passa o dia,
Passa o calor, a exaustão.
Cai a noite, ligam as luzes
Para iluminar a escuridão.
Lá dentro,
Uns falam alto, barafustam ou até acompanham a letra de uma canção;
Outros escutam o silêncio, a comunhão de pensamentos que se leem e resguardam no coração.
Joga-se consola, maneja-se o telemóvel e até se vê televisão,
Enfim, com precisão,
 tudo isto se faz numa viagem de  automóvel
deixando ao condutor a segura e suprema visão!

Boa viagem e cautela, campeão,
Que a velocidade não seja a tua perdição!

Viajar, conhecer o mundo e trazer nos olhos,
na boca e no corpo, a reportagem de uma inesquecível história,
é o desejo de quem regressa a casa, em glória.

( Celina Seabra)


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DRAGÃO DE FOGO

Um gigantesco  incêndio  lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima,  serpenteia  o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem  avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
Gosto tanto de uma boa companhia! Que desagradável, quando te substituem pelo telemóvel!( E falamos nós dos mais novos!) Gosto de estar acompanhada e de acompanhar. Abrando o passo para que o Outro possa caminhar ao meu lado. Não sirvo para ilha, ainda que procure o silêncio para me escutar e renovar. Prefiro a troca de palavras e até comer de boca cheia para responder a quem questiona. Que desagradável é, fugir do olhar de quem está contigo, refugiar - se no mundo do lado de lá, sem notar quem está de cá. Algo me diz que é falta de educação, mas quem sou eu para apontá-lo a quem já passou há muito os 18 anos!? Não tenho jeito para o silêncio quando sou companhia. Mas respeito. Porém, também reflicto : nem sabes tu, desse lado que és tu, que acabaste de perder uma companheira. 🤔 (Celina Seabra)
Entre a gente também há solidão. - Foram mais ou menos estas as palavras da Raposa ao Principezinho. Sábia afirmação. Sorriso pintado é colocado tantas vezes para disfarçar o smile da tristeza, do vazio. Hoje ninguém está só. O ruído atordoa quem se extingue por dentro. A diferença preenche o desequilíbrio. Mais uma madeixas diferentes, uns tattoos extravagantes, uma maquilhagem exuberante e uma indumentária de outro mundo e ficamos sãos! Somos o que vendemos por fora e encobrimos os sentimentos que só angústiam e não resolvem a qualidade de vida. A solidão não faz amigos. Vende-se a felicidade e arranjam-se mil formas de preencher o vazio que se encharca com comprimidos, com alucinógeneos, com apostas miraculosas, com tecnologias diversas que nos encantam, absorvem e cansam... E precisamos de dormir. Não é preciso pensar. Embebedamos a Razão que é má companhia. A tristeza é barreira ao sucesso e o mundo é dos que constroem sucesso e aparentam ser Tão Felizes! (CELINA Seabra)