Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2018

Palavras

Está tudo feito. Já tudo foi dito.  Já de tudo se escreveu. As palavras surgiram. Primeiro sons, depois pequenas formas de dizer, de chamar, de compreender, de amar e até de ofender. As palavras tornaram-se um mar. Algumas mergulharam num abismo e não têm retorno.  Outras encontraram terra onde ficar. Alguém, um dia, se lembrará de as ir repescar. À tona navegam uma infinitude de termos.  Alguns debatem-se pela sobrevivência. Não querem passar à imersão. Combatem pela sua difusão. Outros acotovelam-se entre a concorrência.  Querem marcar presença.  E aquelas que longe dos comuns invulgares se mantinham, aproximam-se para não se transformarem, em ilhas. Usam luvas de pelica. O cheiro fétido da vulgaridade incomoda-as. É que o Calão,  que dentro da hierarquia se situava no mais baixo escalão, vê a oportunidade chegar e em popular se tornar. Hoje o ensino não cativa, aborrece. As palavras que são a nossa pátria ficam esquecidas para sere...

Lista de Desejos

S oubera eu cantar e louvaria o mundo eternamente. Soubera eu voar e emigraria com as aves que procuram lá longe, aconchego e calor, Soubesse eu escrever e não largaria a pena enquanto a mão não me doesse. Soubesse eu pintar e gravaria nas telas toda a imensidão mágica que vejo ao anoitecer. Pintaria o silêncio e moldaria em barro as palavras que se esquecem e fazem frio cá dentro. Soubesse eu, tocar e viajaria em notas musicais, envolvida em tangos sensuais, em musicais intemporais ou em simples duetos rurais. Soubesse eu bordar e teceria a minha alma a ti... Fosse eu médica e cirurgicamente clonaria a tua força e sede de viver. Ah, e se fosse maga, feiticeiro de Oz? Inventaria uma Irmã só para mim! Apagaria esta Dor que teima em crescer e parece não ter fim. Fosse eu os Outros e moldá-los-ía com afagos e beijos de cetim. Fosse eu árvore e protegeria todos os bosques que imagino, todos os ninhos que não serviram de berço, todas as flores que nem em broto...

Noite de Carnaval

Frio. Noite de Carnaval O samba acontece lá fora Quem dança esquece o gelo A música fantasia o castelo E as pedras da estrada debaixo dos pés em chinelo Passam a tapetes bordados por fadas ornamentados por fios de lua. Frio na rua. Gelo no corpo dormente. Não sambo, observo E o frio rompe inclemente Torna-se meu principal oponente Nesta noite mágica de carnaval Desejo que termine... Estranhamente. ( celina Seabra)