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Lista de Desejos

Soubera eu cantar e louvaria o mundo eternamente.
Soubera eu voar e emigraria com as aves que procuram lá longe,
aconchego e calor,
Soubesse eu escrever e não largaria a pena enquanto a mão não me doesse.
Soubesse eu pintar e gravaria nas telas toda a imensidão mágica que vejo ao anoitecer.
Pintaria o silêncio e moldaria em barro as palavras que se esquecem e fazem frio cá dentro.
Soubesse eu, tocar e viajaria em notas musicais, envolvida em tangos sensuais, em musicais intemporais ou em simples duetos rurais.
Soubesse eu bordar e teceria a minha alma a ti...
Fosse eu médica e cirurgicamente clonaria a tua força e sede de viver.
Ah, e se fosse maga, feiticeiro de Oz?
Inventaria uma Irmã só para mim!
Apagaria esta Dor que teima em crescer e parece não ter fim.

Fosse eu os Outros e moldá-los-ía com afagos e beijos de cetim.
Fosse eu árvore e protegeria todos os bosques que imagino, todos os ninhos que não serviram de berço, todas as flores que nem em broto rebentaram, todos os bichinhos que não proliferaram.
Fosse eu Sol e iluminaria de sorrisos todas as bocas que o desconhecem.
Fosse eu Lua e silenciaria os ruídos do mundo ( Minha capa prateada de luz e estrelas seria o narcótico estabilizador da Paz.).
Se fosse estrela protegeria da noite os indefesos...
Se...
Mas só sou eu. Pequena sombra humana de pensamentos ao avesso.

( Celina Seabra)

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DRAGÃO DE FOGO

Um gigantesco  incêndio  lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima,  serpenteia  o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem  avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
Gosto tanto de uma boa companhia! Que desagradável, quando te substituem pelo telemóvel!( E falamos nós dos mais novos!) Gosto de estar acompanhada e de acompanhar. Abrando o passo para que o Outro possa caminhar ao meu lado. Não sirvo para ilha, ainda que procure o silêncio para me escutar e renovar. Prefiro a troca de palavras e até comer de boca cheia para responder a quem questiona. Que desagradável é, fugir do olhar de quem está contigo, refugiar - se no mundo do lado de lá, sem notar quem está de cá. Algo me diz que é falta de educação, mas quem sou eu para apontá-lo a quem já passou há muito os 18 anos!? Não tenho jeito para o silêncio quando sou companhia. Mas respeito. Porém, também reflicto : nem sabes tu, desse lado que és tu, que acabaste de perder uma companheira. 🤔 (Celina Seabra)
Entre a gente também há solidão. - Foram mais ou menos estas as palavras da Raposa ao Principezinho. Sábia afirmação. Sorriso pintado é colocado tantas vezes para disfarçar o smile da tristeza, do vazio. Hoje ninguém está só. O ruído atordoa quem se extingue por dentro. A diferença preenche o desequilíbrio. Mais uma madeixas diferentes, uns tattoos extravagantes, uma maquilhagem exuberante e uma indumentária de outro mundo e ficamos sãos! Somos o que vendemos por fora e encobrimos os sentimentos que só angústiam e não resolvem a qualidade de vida. A solidão não faz amigos. Vende-se a felicidade e arranjam-se mil formas de preencher o vazio que se encharca com comprimidos, com alucinógeneos, com apostas miraculosas, com tecnologias diversas que nos encantam, absorvem e cansam... E precisamos de dormir. Não é preciso pensar. Embebedamos a Razão que é má companhia. A tristeza é barreira ao sucesso e o mundo é dos que constroem sucesso e aparentam ser Tão Felizes! (CELINA Seabra)