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A meio

A meio.
É assim que me encontro.
A meio da vida.
A meio do objetivo que havia traçado.
A meio da estatística que fizera para a minha realização pessoal.
A meio do caminho que aceitara como certo.
Entre tudo e nada.
A parede mestre abriu uma fenda demasiado profunda
e deixou de se equilibrar.
Ficou apenas o chão para caminhar.
Parei a meio 
E agora não sei por onde andar.
Busco a janela para o ar poder inspirar.
Não é hora de me apiedar.
Acobardar, abrandar, afundar
verbos para no precipício saltar...
Estou a meio...
A meio de Tudo e de Nada.
A meio da tela pintada 
E agora esborratada.
A tempestade despoletou
O trovão ecoou.
Anoiteceu em mim.
Súplica pela manhã.
Que o sol raie de mansinho.
Preciso, urgentemente, retomar o meu caminho!
Porque estou a meio...

( Celina Seabra)

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DRAGÃO DE FOGO

Um gigantesco  incêndio  lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima,  serpenteia  o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem  avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
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