Há gritos que ficam na garganta.
Percorrem a cavidade oral e ecoam lá longe, onde só tu consegues escutar.
É um grito engolido, sufocado.
Às vezes, é soluço ou 'ai' recalcado.
Outras, soa a suspiro e a nostalgia.
Talvez alguém repare e te questione.
Talvez te abrace, te aconchegue e a tua dor solucione.
Ou talvez não.
E o grito morre no teu peito.
A solução é embalares o teu sofrimento,
Pegar-lhe com cautela,
escutá-lo e aconselhá - lo.
Sê compassiva contigo e mima-te.
Troca - lhe a veste cinzenta e pinta-a de todas as cores. Aceita a tua diferença que é também a tua singularidade.
Vira a página e reescreve-a.
Desenraiza o espinho que suportas há muito tempo.
Às vezes, precisa de sangrar um pouco,
mas esse é o caminho para a cura.
(Celina Seabra)
Um gigantesco incêndio lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima, serpenteia o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
Comentários
Enviar um comentário