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A meio

A meio. É assim que me encontro. A meio da vida. A meio do objetivo que havia traçado. A meio da estatística que fizera para a minha realização pessoal. A meio do caminho que aceitara como certo. Entre tudo e nada. A parede mestre abriu uma fenda demasiado profunda e deixou de se equilibrar. Ficou apenas o chão para caminhar. Parei a meio  E agora não sei por onde andar. Busco a janela para o ar poder inspirar. Não é hora de me apiedar. Acobardar, abrandar, afundar verbos para no precipício saltar... Estou a meio... A meio de Tudo e de Nada. A meio da tela pintada  E agora esborratada. A tempestade despoletou O trovão ecoou. Anoiteceu em mim. Súplica pela manhã. Que o sol raie de mansinho. Preciso, urgentemente, retomar o meu caminho! Porque estou a meio... ( Celina Seabra)
Pudesse eu voltar ao útero materno e não quereria nascer. O óvulo que foi fecundado não eclodiria. O relógio humano não seria fertilizado e não se contariam os dias da minha gestação. Melhor seria ser nada para nunca ser tratada por Nada. (Estrelinha)

Noite

Gosto de Ti. Que estranho, esta vontade de fazer parte da noite! Gosto de quase tudo em Ti. Gosto do silêncio e de o apreciar e de poder escutar o bater do meu coração. Gosto de Te ouvir dormir ao meu lado. Gosto da chuva que cai lá fora e do calor que me aquece do lado de cá. Gosto de sentir que este é o meu mundo e me pertence. Aqui estou segura. Agora, esta noite e muitas outras em que ouço tranquilamente este silêncio que me aconchega à vida. Os meu ouvidos percorrem toda a casa. Está tudo calmo e há paz. Neste silêncio entregar-me-ia à morte ou a um sono de cem anos. Não preciso do mundo, preciso apenas de paz e deste silêncio que me aconchega a ti e me afasta das dúvidas. Aqui tenho tudo o que mais amo. Neste silêncio, e acordada ainda, zelo o sono do filho que dorme já de porta fechada.  Quantas vezes rezei para que o teu sono, afastado de mim, fosse povoado de sonhos bons e de anjos vigilantes. No outro quarto, da porta encostada, posso ouvir ...

Canção para Ti

Eu e Tu fazemos um Todo. Sem Ti seria apenas Eu. Talvez não soubesse escrever SOLIDÃO... Talvez não existisse este frio que arde em mim, nem este imperativo para te procurar. Mania de não saber viver só! Quem me moldou neste ser pensante e errante, ao mesmo tempo? Cravejaram em mim esta teimosia de partilha e ardo por fazer dela oferenda. Preciso urgentemente de TI! Como Tu precisas de Mim ou, até do Outro. És água que refresca o meu contentamento. És fórmula mágica que revitaliza o meu bem-estar. És o ombro amigo que me conforta. És noite, meu abrigo aconchegante, és abraço onde caibo até me libertar. És chocolate prazeiroso, és meu alimento espiritual. És meu guia, meu pastor, minha relíquia. És o cristal que me deixa brilhar. És cofre sem chave que encontro no fundo do mar. Preciso de Ti! Tens de me terminar! Sem Ti, sou história por acabar. MORAL: Todos os seres humanos precisam de Outro para se completarem. ( Celina Seabra)

Para lá da multidão

Não sei bem quem Tu és, mas trago-te no coração. Procuro-te entre a multidão. Onde estás? Sei que do outro lado também me procuras. Sei que também anseias pelo meu abraço, pelo meu colo, pelo meu beijo. Não estás só! - grito-te daqui, por telepatia. Avança! O caminho parece não ter fim, mas hás de encontrar-me em alguma encruzilhada da vida. Hoje? Amanhã? Em outra vida? Encontro-te Hoje, em cada irmão que me procura e me dá a mão. Beijo-te através da criança a quem dói o arranhão. Conforto-te quando lhe desalinho o cabelo com que o vento brincou. Cinjo-te,  quando abraço o universo onde não sou nada porque o infinito é Tudo e Nada ao mesmo tempo. Amo-te, quando me realizo em gestos que despertam sorrisos e pequeno prazeres... Quero ser Feliz, enquanto te espero. A pele enrugar-se-á, mas quero o meu coração jovem para te receber. Entretanto, caminho entre a multidão onde te encontrarei.

Ensino Profissional... Pim, pam, pum!

ENSINAR. O quê? A quem? A Bestas? A ignorantes? A insensíveis? A indiferentes?  Quem?  Eu? PROFESSOR. Que profissão é essa? Formação? Mas que formação se o que tens à frente é má-educação? Pobreza de valores. Imbecis, incultos, broncos, grosseiros, boçais, néscios, pretensiosos, rudes, SELVAGENS! ESCOLA. Dizem os astutos : "a escola tem como função ensinar, formar cidadãos com saberes indispensáveis para a sua inserção na sociedade." Eu, também, acreditei que sim. Outrora - e não foi durante a Ditadura- os professores preparavam as suas aulas, ensinavam, reinventavam estratégias para aprender a atenção e, quase sempre, havia uma resposta positiva. Não se batia. Não se ofendia. Chamava-se à atenção e pedia-se perdão. Partilhavam-se saberes. Os tempos modernizaram-se e os Senhores MUITO IMPORTANTES e aos quais não falta palavras para redigirem um bom artigo e um bom livro, vieram dizer: " É preciso que a escola trabalhe com a realidad...

Filtro

"- Espelho meu, espelho meu, há alguém mais belo do que eu?" A minha imagem não será a imagem que tens de mim. O meu corpo mente e não sabes disso. Só revelo o que me interessa mostrar. Parecer. Eu vejo-me a mim mesmo.  Tu olhas apenas o reflexo no espelho do teu olhar. Não me conheces. Sou quebra-cabeças. Sou o que a sociedade me revelou em imagens e em estereótipos e protótipos. Sou o que os sentidos apreendem. A visão que cobiça a luxúria, a beleza, a ilusão... Relativizam o que sussurra o coração. A audição que interpreta os sons, a opinião, a superficialidade e todos os segundo sentidos que daí advirão. O olfacto que engana o palato. Transformação. Filtro da autodestruição. A imagem foi a que criei e pensei. Resta saber se, verdadeiramente, de mim aqui falei. ( Celina Seabra)