Um gigantesco incêndio lavra o meu país.
É tão pequeno, este cantinho à beira-mar,
e tão grande o dragão que há já alguns dias
Tomou posse deste pequeno jardim…
É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta,
Onde estivera hibernado,
e teima em fustigar de labaredas cintilantes
um cantinho que já fora verde, muito verde,
quase de encantar…
A cauda chamejante, magnânima,
serpenteia o meu Portugal
E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens
dantescas.
E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante…
As noites surgem avermelhadas e fuliginosas
Como se tivessem acendido milhares de archotes.
Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas
Que já foram pinho…
Mas o dragão não é fácil de atacar.
Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam
Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas…
Ao dragão nada importa a não ser o prazer de ver o que criou:
- um cenário dantesco, digno de um imperador que aprecia um
espetáculo de pirotecnia.
As labaredas consomem campos, casas e vidas.
Saltam barreiras, estradas e rios…
Desafiam os cavaleiros da paz.
Mais tarde há de partir, sei disso.
E há de surgir alguma tranquilidade, alguma paz interior...
Mas os campos que observo são, agora, manchas negras
Que fumegam, como se neles permanecessem pequenos vulcões a
respirar.
O vento leva as cinzas e a chuva há de renovar… sei disso,
também…
O prazer do dragão foi-se e tal qual o ladrão
acoita-se mais uma vez, no seu covil distante ou, então, até
próximo de nós.
A ardência é anestesiada mas, infelizmente, voltará,
Talvez na próxima estação, no próximo ano,
e de novo reinventará cenários tétricos, intimidantes…
“ Negros estão os campos,
da cor do carvão “
Os meus olhos choram
Ao contemplar tal destruição!!!
( Celina Seabra)
( Celina Seabra)
Comentários
Enviar um comentário