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Pedinte

Velha.
Mulher de idade avançada.
Antiquada.
Decrépita.
Envelhecida por dentro.
Murcha.

Velha jovem: insatisfeita, quase nada, meio termo, promessa quebrada...

Era uma vez uma menina sonhadora que acreditava em viagens fantásticas e em finais felizes.
O sonho perdeu-se.
Ficou perdido lá longe numa alma que se fechou.
Virou concha, mas vazia. A pérola que tentaram lapidar virou espuma e a espuma desapareceu.
O rio lavou.
O tempo não parou, mas a menina deixou de sonhar.
Dentro formou-se uma pedra e não soube como contorná-la.
Dentro vive um ser destruidor, corrosivo, tentador e voraz ... Nada o satisfaz.
Dentro pulula um medo indecifrável que afogueia. A lava espalha-se por ali e queima, incinera a voz que deveria cantar e louvar o Bem.
Esqueceu os Outros. Centrou-se em si.
Embrulhou a mágoa, os ciúmes, a inveja e fez-se Insatisfação.

Se encostares o teu ouvido ao seu coração, talvez ele derreta.
Se souberes as palavras certas, talvez o sofrimento se deixe lavar em lágrimas.
Se conheceres a Fonte da Alegria, traz-lhe um pouco dessa água.
Se souberes ler nas entrelinhas, socorre-a.
Tu não sabes nem vês, mas sou apenas uma pedinte.

( Celina Seabra)

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DRAGÃO DE FOGO

Um gigantesco  incêndio  lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima,  serpenteia  o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem  avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
Gosto tanto de uma boa companhia! Que desagradável, quando te substituem pelo telemóvel!( E falamos nós dos mais novos!) Gosto de estar acompanhada e de acompanhar. Abrando o passo para que o Outro possa caminhar ao meu lado. Não sirvo para ilha, ainda que procure o silêncio para me escutar e renovar. Prefiro a troca de palavras e até comer de boca cheia para responder a quem questiona. Que desagradável é, fugir do olhar de quem está contigo, refugiar - se no mundo do lado de lá, sem notar quem está de cá. Algo me diz que é falta de educação, mas quem sou eu para apontá-lo a quem já passou há muito os 18 anos!? Não tenho jeito para o silêncio quando sou companhia. Mas respeito. Porém, também reflicto : nem sabes tu, desse lado que és tu, que acabaste de perder uma companheira. 🤔 (Celina Seabra)
Entre a gente também há solidão. - Foram mais ou menos estas as palavras da Raposa ao Principezinho. Sábia afirmação. Sorriso pintado é colocado tantas vezes para disfarçar o smile da tristeza, do vazio. Hoje ninguém está só. O ruído atordoa quem se extingue por dentro. A diferença preenche o desequilíbrio. Mais uma madeixas diferentes, uns tattoos extravagantes, uma maquilhagem exuberante e uma indumentária de outro mundo e ficamos sãos! Somos o que vendemos por fora e encobrimos os sentimentos que só angústiam e não resolvem a qualidade de vida. A solidão não faz amigos. Vende-se a felicidade e arranjam-se mil formas de preencher o vazio que se encharca com comprimidos, com alucinógeneos, com apostas miraculosas, com tecnologias diversas que nos encantam, absorvem e cansam... E precisamos de dormir. Não é preciso pensar. Embebedamos a Razão que é má companhia. A tristeza é barreira ao sucesso e o mundo é dos que constroem sucesso e aparentam ser Tão Felizes! (CELINA Seabra)