O tempo passa e tu contas os anos.
Os teus aniversários sucedem-se e
quando olhas ao espelho já não vês o reflexo da menina de outrora. Envelheceste
por fora. As tuas mãos, que são criadoras, deixam transparecer sulcos que
desconhecias. É o tempo a avisar-te da tua efemeridade. “Hás de passar” – diz-te.
“E eu hei de guardar histórias de ti. Talvez as vejas escritas nas memórias de
quem contigo, de alguma forma, comungou dos teus pensamentos, dos teus dizeres,
dos teus avisos e, até, dos teus despropósitos.” Serás átomo ou pó neste universo sem fim.
O tempo passou por ti, bem vejo.
Mas vejo, também, a menina tímida, curiosa e a sonhadora. Ouço as cantigas que ecoam
dentro de ti. Ouço as histórias que amavas ouvir, para depois contares e
surpreendo no teu olhar as nostalgias e as alegrias da juventude que não se
deixa prender. Pressinto os teus temores disfarçados e sinto saudades de não
ocupar mais os teus abraços e o teu colo
acolhedor.
O tempo deixou-te cabelos brancos
e rugas, mas em ti continua a pulsar o desejo de viver e de ser feliz.
O tempo passa, Tu passarás, mas o Amor que trago comigo há de nunca morrer.
(Celina Seabra)
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