Avançar para o conteúdo principal

Tu morreste e eu não morri


 Quando Tu morreres eu morro, também.

Era o que te dizia sempre que me perguntavas se gostava de ti.

E não mentia, princesa. O meu AMOR é eterno e não há palavras que o consigam traduzir.

És parte de mim, a partir do instante em que te recebi.

No início éramos um só.

Éramos coração com coração.

Os nossos silêncios eram música que nos embalava quando não falávamos.

Não era preciso.

O nosso alimento era a essência que nos tocava.

Depois, o tempo, que se perpetua sobre nós, foi-nos distanciando sem que perdêssemos o pensamento de que nos amávamos de longe.

Achávamos que estaríamos para sempre aqui.

A Vida insiste para que esqueçamos a nossa efemeridade e teimosamente queremos viver.

Amores novos chegam,

surpresas. 

momentos mágicos,

planos que se meditam,

transformações que experienciamos,

problemas que não agendámos e temos de resolver

e achamos que voltamos a ter tempo para recuperar aquele que perdemos, distante de ti.

Ilusões, princesa.

Enganos manhosos que nos erguem no palco da vida como se fossemos marionetas.

Somos fantoches na mão do tempo que não tem tempo para cada um de nós.

"Quando tu morreres, princesa, eu morro, também." - dizia.

Mas tu morreste, amor, e eu não morri...

E eu queria morrer, também, e tu sabes disso.

Morri na dor que me tomou como um raio que desce sobre a terra e escava um cratera no solo.

Morri no dia em que morreste, também.

Perdi a noção dos dias e das horas. - Regras inúteis, insignificantes para quem perdeu a vida, ainda em vida.

Perdi o sorriso que te pertencia e as palavras calaram-se definitivamente para o mundo.

O encanto foi posto ao canto onde agora mora a escuridão.

As lágrimas que me golpearam durante dias e formaram sulcos dentro da minha alma, secaram.

Sou um campo árido.

A morte vive dentro de mim, mas eu não morri.

Ainda não parti, princesa.

O fio ténue que separa a sanidade da loucura, diz-me que tenho de ficar.

Existem os outros.

Aqueles que te amaram tanto e que se preocupam comigo, hoje.

Aqueles a quem doei o meu coração que afinal não é só um, mas um puzzle que dividi com a família que criei.

Amo-te, tanto, princesa, que dói só de pensar em ti.

Os meus dias ficaram vazios e, ainda que a solidão de não te ter, se sente todos os dias ao meu lado, senta-se também, a esperança dos que me estendem os braços para não os largar.

"Não vás! "- imploram-me.

E ainda que queira acompanhar o teu voo, nessa eternidade que te agarrou antes do tempo desenhar em ti as rugas da velhice, as minhas asas encolhem-se face a esse desconhecido a que pertences já.

Eu disse-te que, também morria, 

mas não morri...


(Celina Seabra)

 


Comentários

Mensagens populares deste blogue

DRAGÃO DE FOGO

Um gigantesco  incêndio  lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima,  serpenteia  o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem  avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
Entre a gente também há solidão. - Foram mais ou menos estas as palavras da Raposa ao Principezinho. Sábia afirmação. Sorriso pintado é colocado tantas vezes para disfarçar o smile da tristeza, do vazio. Hoje ninguém está só. O ruído atordoa quem se extingue por dentro. A diferença preenche o desequilíbrio. Mais uma madeixas diferentes, uns tattoos extravagantes, uma maquilhagem exuberante e uma indumentária de outro mundo e ficamos sãos! Somos o que vendemos por fora e encobrimos os sentimentos que só angústiam e não resolvem a qualidade de vida. A solidão não faz amigos. Vende-se a felicidade e arranjam-se mil formas de preencher o vazio que se encharca com comprimidos, com alucinógeneos, com apostas miraculosas, com tecnologias diversas que nos encantam, absorvem e cansam... E precisamos de dormir. Não é preciso pensar. Embebedamos a Razão que é má companhia. A tristeza é barreira ao sucesso e o mundo é dos que constroem sucesso e aparentam ser Tão Felizes! (CELINA Seabra)

Pobre vs Rico

" Não peças a rico E não prometas a pobre"... Nunca o provérbio - voz do povo - esteve tão próximo da realidade do meu Hoje. Rico não dá. Queixa-se. Pobre não esquece. Necessita. Rico olha para ti apenas quando deseja extorquir-te alguma coisa. ( " Come a tua carne e despreza os teus ossos". Porque não tem dentes? Porque tem mais olhos que barriga.") Pobre olha para o chão e conta os seus passos no caminho que é de todos. Por vezes, não os distingue. Esquece-se de que são os seus. Rico nunca rouba. Serve-se do dinheiro dos outros para criar o seu império. Pobre pede ou envergonha-se de pedir... Rico tem sempre razão. Ai, daqueles que não lhe derem atenção! Pobre erra. Pede desculpa, titubeia e esconde o rosto na sua própria mão... Rico acha-se rei e pensa estar acima da lei. Pobre conta os trocados para pagar as contas ao Estado. Rico é capitalista. Acumula riquezas com o suor do proletariado. Pobre acha-se socialista. Na verdade, ele é um ideal...