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Pensamento

Pensar: olhar para dentro de ti. Meditar, silenciar, refletir... Repensar o que ficou gravado na caixinha que te guarda o Tempo que já passou. Pensar: verbo amigo, ora do silêncio - Purificador do espírito... Ora vigilante do que te negas a enfrentar. Pensar: sorver cada reminiscência que pensavas esquecida. Álbum de recordações... Penso na linha que separa o racional do que era mais fácil ser: esquecer. ( Celina Seabra)
Primavera de lindas flores. Princesa dos odores inebriantes. Deusa da fecundidade. Mãe amorosa e acolhedora. Colo das avezinhas. Senhora das manhãs claras vestidas de oiro. Talismã rejuvenescedor. Rainha de Noto e Zéfiro. Meu bálsamo apaziguador anseio pelo teu brilho minha terapia natural ombro da minha sanidade mental. ( Celina Seabra)

Presente do indicativo

Há olhares que entram por dentro de nós e invadem-nos a  alma. São tão prescrutadores que nos fazem chorar. Há silêncios que soam a música e a afagos. E tenho receio de os deixar ir. Há toques que apesar de recentes, já eram familiares. São detalhistas, esmiuçadores sem serem maliciosos. Há raivas que se contém quando o desejo é contestar... até esbofetear. Há olhos que não cruzam os teus: têm medo de ver, pois podem perder a insolência. Há gente que transforma em abrolhos o caminho dos outros. São pedras retorcidas, enviesadas, que esqueceram o Escultor. Há palavras que nunca são música. São gotas de chuva. Há amores que nunca se entregaram. Entre eles a vidraça açoitou o encontro. Há irmãs que já se conheceram. Hoje mascararam os sorrisos. Há mãos que anseiam por uma comunhão solene, mas o mundo permanece surdo. Celina Seabra

Gasta

J á gastei todas as palavras que tinha para  vos  convencer. Vi, ouvi, percebi. Indaguei, pedi, resolvi, não resolvi. Fiquei repentinamente muito cansada... Arrastei as minhas tentativas demasiado tempo. Saí ferida, vencida e, ainda, mal convencida. O tempo não perdoa. Os planos são demasiadas vezes interrompidos. Sinto-me vazia. Dentro de mim uma sombra arrasta o cadáver ambulante que me sustenta. Estou cansada... Cansada de Ti, de Vós, até de mim. Agora, aguardo o amanhã. Talvez as nuvens se dissipem e faça, de novo, sol. ( Celina Seabra)

Rei sem trono

Sem a escrita a minha vida não teria sentido. Seria alma enrugada, amachucada, embrulhada para dentro. Escrevo para falar o que não digo aos outros e aquilo que não sabem ler em mim. Escrevo para crescer na intimidade com que me aproximo da palavra. Escrevo para soltar o pássaro que se perde na gaiola à qual se acomodou. Escrevo para libertar a raiva, o terror, a revolta que me torna monstro. Escrevo para educar a Razão, para a libertar da Emoção. Escrevo para marcar o meu lugar, para brasonar o meu sangue que imagino eterno. Escrevo para pedir perdão. É a minha orientação para to pedir a ti. Escrevo sob inspiração, contra a Razão que me impõe um fim. Este é o meu legado. Íntimo, pobre, por vezes, pensado. Mas é a recompensa deste meu reinado. Com um único trono: o de um coitado. ( Celina Seabra)
Hoje mergulharia na água límpida deste rio que se espreguiça ao longo da cidade. Entregar-me-ia ao abismo, ao esquecimento, à evasão.

Um dia

Um dia destes vou com o Tempo. Quebro as algemas que me prendem ao inútil  e parto. Pertenço a um pequeno canteiro de flores temporais. O jardim é grande e a flora variadíssima. Não notarão que fui. Porque a primavera há de sempre brotar. ( Celina Seabra)