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Quando VioLência é julgada como não-violência

Talvez o horror das imagens em direto possam mudar as leis e tornar a Justiça mais justa!
Estou horrorizada, indignada e dentro de mim soltou-se a fera que desejaria fazer justiça, repô-la, condená-la como se fosse um deus pagão, porque sei que o Deus cristão apela ao amor e ao perdão. Sou pacífica, cristã, mas depois do que vi, o meu lado selvagem pulula e reclama vingança, se não puder existir justiça!
O homem quando nasce, “ nasce selvagem”, mas educamo-lo para ser inserido numa comunidade e para ser sociável. Porém, que valor tem esta máxima universal se o que vejo dia após dia é a implantação da VIOLÊNCIA? Que crédito tenho eu, afinal, quando, perante os meus alunos, apelo à não-violência? Que JUSTIÇA, afinal, protege o JUSTO?
Que mãe ou pai sou eu que ensino o(s) meus(s) filho(s) a serem íntegros, honrados, bondosos, verdadeiros, quando afinal, me deparo e se deparam eles com corrupção, violência, mentira e me “roubam” os meus filhos, lhes batem e os condenam cruelmente à morte? Entretanto, os OUTROS pavoneiam-se no MUNDO – bandidos, mentirosos, corruptos, marginais, malfeitores, ardilosos –, num mundo que também me pertence! 
Que JUSTIÇA me protege do medo que a cada esquina espreita?
Que JUSTIÇA paga a vida de um filho que é barbaramente tirado aos pais?
Que JUSTIÇA nos ampara? Que leis são essas que os legisladores aprovam e na prática podem ter várias interpretações?
Que DIREITOS são esses, expostos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e que todos os dias são quebrados?
Onde estão os HERÓIS? Porque VILÕES existem muitos!
Eu que não me considero violenta, HOJE usaria do apedrejamento contra esses seres belicosos,  malfeitores, asquerosos, que não podem ser chamados de Humanos! Seres irracionais. FERAS!
À cabeça chegam-me máximas que o mundo conhece, porém hoje questiono-as.
“Violência gera violência.” Mas a paz parece ser fictícia… A justiça não condena. As penas são suspensas. O dinheiro compra. O arrependimento só surge depois, quando não se volta a cair em tentação.
 As questões que ouço serem colocadas pelos comentadores nos canais televisivos dão-me vontade de rir: “ terá o assassino, o matador, o belicoso tido intenção de matar no momento? Ou só bateu, escorraçou, desfigurou até ficar em coma?” 
O que querem mais? Uma lápide onde diga " Aqui jaz, fulano tal?"
Será que a JUSTIÇA HUMANA, os HOMENS da LEI, os JUÍZES, os PROCURADORES, os ADVOGADOS têm a coragem de levantar estas questões?
Então faça-se justiça à antiga: “ olho por olho, dente por dente!”
Mais uma constatação universal: algo está mal no mundo em que vivo. E a culpa será do " Sal" que não salga ou dos " responsáveis" que não se deixam salgar? A PAZ é superficial e está sentada sobre um barril de pólvora.
A Igualdade é camuflada com salários miseráveis e com subsídios de subsistência.
A Fraternidade é publicitada com pedidos generosos ao “ Zé Povinho” para depois verificar que o que dera ( dinheiro, roupa, alimentos…) foi desviado para outros fins e para quem não precisa. Eu chamo a isto ROUBO!
Apetece-me usar as palavras sábias e amargas que Matilde de Melo usou para Rita, quando injustamente o seu companheiro foi preso pelo governantes, só porque lutava pela Igualdade e por um povo esfomeado e maltratado. Depois de vária tentativas para salvar da morte injusta o " seu homem", Matilde  compreende a inutilidade das suas palavras.  E conclui  aquilo que, por vezes, também eu penso, quando  falamos da educação a dar a um filho: “Ensina-se-lhes que sejam valentes, para um dia virem a ser julgados por covardes! Ensina-se-lhes que sejam justos, para viverem num mundo em que reina a injustiça! Ensina-se-lhes que sejam leais, para que a lealdade, um dia, os leve à forca! (Levanta-se) Não seria mais humano, mais honesto, ensiná-los, de pequeninos, a viverem em paz com a hipocrisia do mundo? (Pausa) Quem é mais feliz: o que luta por uma vida digna e acaba na forca, ou o que vive em paz com a sua inconsciência e acaba respeitado por todos? “ E continua: “ Se o meu filho fosse vivo, havia de fazer dele um homem de bem, desses que vão ao teatro e a tudo assistem, com sorrisos alarves, fingindo nada terem a ver com o que se passa em cena! ( Pausa) Havia de lhe ensinar a mentir, a cuidar mais do fato do que da consciência e da bolsa do que da alma.”( in Felizmente há luar! de Luis Sttau Monteiro).
O tempo aqui retratado é o do século XIX, porém o que é que mudou?
Surgiram Leis, Direitos, Deveres, Constituições,Declarações, Regulamentos, mas parece-me que tudo o que se escreve e faz parte do que é moral, cívico é frequentemente esquecido. A Lei não passa de um conjunto de normas que facilmente podem ser contornadas.
Evoluímos, mas que transformação se deu no interior do ser humano?
Adormece-se a fera, o menino selvagem, mas crescem Homens violentos e carniceiros.
Não quero viver numa sociedade onde a Justiça desculpabiliza o bárbaro, onde o Juiz perdoa o assassino, onde o advogado defende a besta…
No século XXI, o ódio, as injustiças, os interesses mesquinhos, a hipocrisia, a traição, a manipulação perversa do poder, dos mais ricos e dos mafiosos, continuam a reinar e a manter o seu império. Continua a faltar a consciência, a integridade, a coragem, a determinação e a Humildade que deveria ser dada pelos mais poderosos e por todos os que governam o mundo. Quando o exemplo não vem de cima...

Quanto aos Bons continuam a ser uma excecionalidade num mundo de ganância e hipocrisia

( Celina Seabra

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