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ESPELHO



Não sei ser triste a valer.
As lágrimas esfregam as mágoas
Que se acumulam à volta da emoção.
A voz traduz, por hábito, a tristeza que faz de mim fraqueza.
E é teimosa.
Quando se senta ao meu lado é para ficar.
Traz algemas e prende-me ao vazio e à falta de noção.
Deixa-me cansada.
Abri-lhe demasiadas vezes a porta e ainda que a tranque, há sempre uma janela que se abre e a deixa passar.
Insiste em fazer-me companhia. Desfragmenta-me em vidrinhos que perderam o brilho.
De vez em quando construo com eles poemas tristes.
Descuido-me e há sempre algum que abre o que era cicatriz.
E o sangue corre livre.
É o alerta para não continuar.
O espelho há- de permanecer assim: fragmentado.

( Celina Seabra)
Dia 19/06/2018

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