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Palavrões e mais palavrões

Hoje apetece-me usar a linguagem de lixo que ouço todos os dias aos alunos que frequentam o Curso de Mecatrónica!
Aquelas palavras, que caem mais frequentemente do que moedas rolam dos meus bolsos, fazem eco nos meus ouvidos. Ouço-as como quando alguém usa o pau de giz no quadro sem o partir! Roçam a minha lucidez e molham o meu bem estar. 
A água límpida que é a minha serenidade fica, momentaneamente, emporcalhada.
Às vezes finjo que não ouço. São palavras loucas, fúteis, inúteis, sem nexo...
Mas cheiram-me a encardidas.
E quando os alerto para o contexto em que se encontram, para as regras de bem conversar, olham-me como se eu fosse uma aberração. Falar mal está na moda! E não pensem que os palavrões bestiais, que são pronunciados em uma ou duas orações, são pertença apenas, de um grupo marginal ou de província! Os meninos ricos, de boas famílias também as dominam. 
Hoje, parece-me que TUDO passou a ser visto como permissivo e usual. 
Falar mal o português ( e " A minha pátria é a língua portuguesa!"), transgredir as regras da boa educação, deixar de ser gentil é HOJE natural.
Até aqueles que deveriam servir de exemplo à geração atual, porque vendem a sua imagem no écran televisivo, que marca presença em todas as casas, pronunciam com toda a naturalidade palavras como " caraças" , " fosga-se", " fónix"que , segundo o Dicionário de Língua Portuguesa, não são mais do que vocábulos substitutos de palavrões que só deveriam ser ditos quando emocionalmente perturbados. 
Por exemplo, " fosga-se" e" fónix" não são mais do que interjeições alternativas e menos grosseiras para o tão afamado " foda-se". " Carago" e " caraças" terão origem espanhola e são o decalque para o sonante " caralho"!
Os palavrões estão por todo o lado e vieram para ficar.
Os meus alunos já não consideram ofensivo usar palavrões, nem se inibem quando estão numa sala de aula. Desengane-se quem pensar o contrário, pois o professor é que não está na moda!
Os palavrões são um " hábito", um " rosário" que se aprendem e dificilmente se conseguem largar.
O que outrora se evitava dizer em frente aos mais velhos, virou praxe. E já não se pede " desculpe" nem ficam corados por vergonha.
Tornou-se simplesmente natural.
A mim ensinaram-me que não podia dizer asneiras. Era muito feio para uma menina fazer uso de uma linguagem dessas!
E ficou-me essa mania de não as pronunciar em sílabas. Daí, talvez o chocalho que ouço dentro de mim quando, passados 90 minutos, saio da sala de aula consciente de que eu  fizera um  " mestrado" em asneiredo.
Ensinaram-me que os palavrões são reações impulsivas, que usamos quando estamos mal dispostos e zangados. Ensinaram-me que são uma espécie de arma mental que nos permite insultar, enfurecer,  excitar e até animar.  Como alguém disse " são uma espécie de injeção de adrenalina mental". E HOJE, como vos disse inicialmente, apeteceu-me gritar bem alto alguns desses palavrões. Não o fiz verbalmente, mas dentro de mim ouvi o eco do " Vai para a puta que te pariu!"
A expressão aliviou a minha dor e a minha raiva.
Não mudou a situação. Apenas expeliu o " sapo" que fui obrigada a engolir.
Chamem-me MORALISTA, porque o sou. Amo a minha língua ( ponto final!).
É na língua de cada povo que reside a alma de uma nação. 
( Celina Seabra)

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