Eu
e a noite somos amigas desconfiadas.
Deitamo-nos
lado a lado, mas não nos tocamos.
Fecho
os olhos para que ela não leia os meus pensamentos e me deixe em paz.
Detesto
as insónias e o nunca mais me deixar ir para aquele mundo que não manuseio
conscientemente.
Aborrece-me
o marasmo de me enrolar em mim mesma para afastar todas as questões que não
quero responder…
Temo
o silêncio da noite que me obriga a acordar, a fugir da cama para escrever ou
para caminhar por toda a casa, para que a minha consciência teimosa se
anestesie e me deixe descansar.
Admiro
os que dormem com aquela facilidade de quem boceja e logo se apaga. É o sono
dos justos, dizem. Mas eu também sou justa. E também sou advogada e juiz de mim
mesma. Multiplicidade de figuras que se confrontam e se desentendem, muitas
vezes…
Sinto-me
castradora do meu próprio sono e invejo os que dormem, reparadoramente, a noite
de uma só vez.
(Celina
Seabra)
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