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Aguarela

 Todas as dores são definíveis?

Que escala usarias para a tua?

Que dor entranhas e finges não sentir?

É  a física ou é a psicológica?

É a que te faz contorcer o corpo e torna a tua existência um fardo, porque o mal já se espalhou e a ciência não tem resposta para ela? 

Ou é aquela indecifrável, a que aparentemente não tem sentido, 

a obscura que parece arrastar-te a alma numa suplicante agonia?

Mantém-na oculta e acentuas a solidão - podes crer.

Já a traduziste e não encontraste solução. - Dizes.

Já a gritaste, mas o céu perpetuou-a no eco do universo.

As tuas lágrimas não voltaram a comover quem te ofertou o seu ombro e acabaram por

 secar no labirinto que em ti construíste.

Busca o fio de Ariadne! Evita a perdição!

( Ainda escutas ao longe. É a tua razão.)

A dor esgota-nos.

A dor consome-nos e é cancro em grau avançado.

Parece não haver medicação.

O sol foi-se e o teu mundo pintou-se de preto e branco.

Há sombras nessas paredes que, ainda, teimas em tactear.

Não enxergas bem, eu sei.


Mas a preto e branco constroem-se fotografias prodigiosas! Há arte, mistério, as sombras são perfeitas e sugestivas e a claridade guia o nosso olhar ao ponto fulcral.

Há caminhos gravados a carvão e polvilhados de pó das estrelas para te guiarem.

Não te percas!

Queres brilho, vitalidade, novas tonalidades?

Usa os lápis de cor com que a vida te presenteou:

- o verde para a esperança que achaste perdida;

- o vermelho para o sorriso que apagaste e se tornou linha sem contornos;

- o amarelo para o reflexo da luz, que o cristal do teu olhar extrai quando observas;

- o azul para atenuar a condensação da tua alma e libertá-la de obstáculos, porque o céu é infinito.

Vestirás o branco, a cor da luz, e serás alegria e libertação.

As outras cores servirão para festejares todos os dias da tua vida.

Avança!  Faz-te aguarela!

(Celina Seabra)

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