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Mensagens

Gasta

J á gastei todas as palavras que tinha para  vos  convencer. Vi, ouvi, percebi. Indaguei, pedi, resolvi, não resolvi. Fiquei repentinamente muito cansada... Arrastei as minhas tentativas demasiado tempo. Saí ferida, vencida e, ainda, mal convencida. O tempo não perdoa. Os planos são demasiadas vezes interrompidos. Sinto-me vazia. Dentro de mim uma sombra arrasta o cadáver ambulante que me sustenta. Estou cansada... Cansada de Ti, de Vós, até de mim. Agora, aguardo o amanhã. Talvez as nuvens se dissipem e faça, de novo, sol. ( Celina Seabra)

Rei sem trono

Sem a escrita a minha vida não teria sentido. Seria alma enrugada, amachucada, embrulhada para dentro. Escrevo para falar o que não digo aos outros e aquilo que não sabem ler em mim. Escrevo para crescer na intimidade com que me aproximo da palavra. Escrevo para soltar o pássaro que se perde na gaiola à qual se acomodou. Escrevo para libertar a raiva, o terror, a revolta que me torna monstro. Escrevo para educar a Razão, para a libertar da Emoção. Escrevo para marcar o meu lugar, para brasonar o meu sangue que imagino eterno. Escrevo para pedir perdão. É a minha orientação para to pedir a ti. Escrevo sob inspiração, contra a Razão que me impõe um fim. Este é o meu legado. Íntimo, pobre, por vezes, pensado. Mas é a recompensa deste meu reinado. Com um único trono: o de um coitado. ( Celina Seabra)
Hoje mergulharia na água límpida deste rio que se espreguiça ao longo da cidade. Entregar-me-ia ao abismo, ao esquecimento, à evasão.

Um dia

Um dia destes vou com o Tempo. Quebro as algemas que me prendem ao inútil  e parto. Pertenço a um pequeno canteiro de flores temporais. O jardim é grande e a flora variadíssima. Não notarão que fui. Porque a primavera há de sempre brotar. ( Celina Seabra)

Primavera

Cor. Muita Cor é o que desejo hoje. Luz, paleta de um pintor, para assim salpicar o cinzento do inverno que se despede. Vai para longe. Emigrou para outras paragens. Arrasta consigo o seu capote de tempos infinitos.  Parece cansado. Suas pernas gostariam de ficar. De confraternizar com a primavera. Mas o relógio do Tempo não se atrasa. E o Mundo aqui parece aborrecido. Tanta chuva! Ao longe ainda avista a magistral primavera. Nutre por ela uma paixão platónica. Ela está no seu auge. Menina-donzela, radiante, fresca, colorida! Não envelhece, a primavera. Mas, também,... acabou de brotar, de nascer de novo. O seu rosto irradia luminescência, Toda ela é graça e cor. Os seus vestidos pintalgados de flores, árvores, ninhos, aves, são a coloração da Vida que desperta. No seu ventre traz a bonança. Nos seus braços o Amor. Nos seus olhos as estrelas da manhã e nos seus cabelos os diferentes odores que convidam a segui-la.  Quem a vê, rende-se-lhe. Torna...

Deixar-me ir...

S audades de quem não me quer. Saudades de tempos imaginários. Angústia que se desconhece. Solidão que teima em sobreviver. Sorrisos que se desenham... pura simulação. Desejo de estar triste. Masoquismo egoísta. Inglória do presente. Esquecimento eterno. Melancolia que não se apaga. Cansaço que se entranha... Nada fazer. Nada ser. Deixar-me ir. ( Celina Seabra)

Sono

Mente vazia corpo semi-presente sonolência anestesiante apelo da noite voz do descanso. corpo estendido. forças perdidas. coração tranquilo. energia guarnecida. Voz da noite. olhos que se fecham. mente que vagueia. sonhos? Ideias? Pesadelos? Reconstrução. Amanhã é um novo dia! ( celina Seabra)