" Há pessoas que passam pela nossa vida e são como o vento" :
ou são brisa e
sossegam-nos, de alguma forma, tranquilizam-nos, são agradáveis, respiráveis, trazem
energia para prosseguirmos viagem, ainda que por vezes o calor ou qualquer
outro obstáculo se interponha.
Há outras pessoas que são como os
ventos alísios: são amenos, constantes, marcam-nos pela sua presença, orientam as
" nossas embarcações", são bússolas no mar que navegamos e os ideais
para prosseguirmos viagem, sem grandes esforços, porque sopram a vela que nos
orienta.
Há outra espécie de pessoas que fazem lembrar os ciclones, entram
nas nossas vidas e destroem tudo o que encontram pelo caminho. Deixam marcas,
cicatrizes...
Por último, há ainda aquelas que são furacões, que não olham a meios para atingirem os seus
fins. Espalham destruição e danos... e Deus nos livre de estarmos no seu
caminho!
Felizmente, na minha caminhada tenho apanhado mais gente que se
assemelha à brisa ou então aos ventos alísios!
Hoje soube que partiu uma senhora que faz parte das minhas memórias de infância:
a senhora Lucrécia! Passou toda a sua vida numa pequena aldeia da Beira Alta (Vide
Entre Vinhas) e, na minha perspetiva, não foi uma mulher amada; foi antes uma
mulher sofrida. Conheci-a sempre viúva e vestia sempre de negro. Passou quase
toda a sua vida junto do filho único que nem sempre foi bom para aquela mãe.
Habitou uma pobre casa e ela sempre se intitulou de pobre e muito humilde.
Nunca me faltou ao respeito e eu era apenas uma menina quando a conheci. Sempre
me tratou de D. Celina e na sua voz nunca pressenti adulação… Nos últimos anos,
quando visitava Vide, a sua presença era constante. Naquela aldeia sempre me
abriu os braços, me beijou… nunca a vi esconder-se ou espreitar por trás dos
cortinados. Quando ainda podia andar, batia à minha porta sempre com a desculpa
de me oferecer alguma coisa, do pouco que tinha. Eu sabia que ela queria
companhia, que queria conversar… Abria-lhe a minha porta e oferecia-lhe do meu
pão e aquecia-lhe, possivelmente, a sua alma, sedenta de carinho e de uma amena
cavaqueira. Falava-me de si e não dos outros ( como sei que outros falavam
dela).
Hoje senti saudades desta senhora que passou pela minha vida como uma
brisa. Agradeço-lhe as vezes que fez companhia à minha avó.
A minha avó gostava
dela. Considerava-a amiga e era uma presença, uma pequena luz na sua vida…
Numa aldeia, perdida na serra, onde o silêncio e a solidão imperam,
sobretudo nos dias de inverno, ter alguém com quem conversar é um oásis.
Entendo-te, avó! Tu eras intuitiva e eu sinto-me parecida contigo.
As últimas vezes que regressei a essa aldeia, notei a sua falta(encontrava-se num lar). Ela era uma referência. Era mais uma daquelas pedras de granito que embelezam a paisagem selvagem que se apoderou de uma serra que já foi cultivada. Com ela, foi-se mais um pedaço da vida daquela terra.
Aos familiares da D. Lucrécia ( mãe do Zé Virgílio) dou as minhas condolências e a ela desejo-lhe uma “boa viagem” até ao paraíso.
Até sempre!!!
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