Quando eu for velhinha, quero que
me abraces assim, juntinho a ti, para sentir o teu coração palpitar junto ao
meu.
Quando eu já tiver rugas e
cabelos brancos, quero contar-te histórias, embalar-te na minha voz, trespassar-te
do meu passado para que possa fazer, também, parte de ti. Aceita, é a minha
herança.
Há quem plante uma árvore,
escreva um livro… eu deixo um filho… sangue do meu sangue, fruto de amor e
réstia de esperança. Marca de que por aqui passei também.
Quando eu for velhinha, deixa que
eu encoste a minha cabeça à tua e, no silêncio, daquilo que ainda visiono,
deixa-me cantar melodias, cantigas de infância ou histórias tontas, alegres ou
simplesmente, tristes. Escuta-me com doçura e ata as tuas mãos às minhas…
Escuta comigo o silêncio e
partilha a tua hora de compaixão ou paixão juntinho a mim.
Olhemos o horizonte, sentemo-nos
na relva do nosso jardim, que outrora cuidei, amei e onde fui feliz. Se
soubesses como escutei a voz da terra e
entendi, finalmente, que a ela pertenço!
Se soubesses como fui feliz a contemplar o pôr
do sol, as aves que pairavam sobre mim, o horizonte que apenas me abraçava e me
contemplava, o vento que ora zunia e fazia arrepiar a minha pele com frio ou,
então beliscava o meu corpo que por ele ansiava - corpo deitado ao comprido na
maciez do jardim…
Ali compreendi que não é preciso
muito para ser feliz e voltar de novo a ser petiz.
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