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Quando eu for velhinha, quero que me abraces assim, juntinho a ti, para sentir o teu coração palpitar junto ao meu.
Quando eu já tiver rugas e cabelos brancos, quero contar-te histórias, embalar-te na minha voz, trespassar-te do meu passado para que possa fazer, também, parte de ti. Aceita, é a minha herança.
Há quem plante uma árvore, escreva um livro… eu deixo um filho… sangue do meu sangue, fruto de amor e réstia de esperança. Marca de que por aqui passei também.
Quando eu for velhinha, deixa que eu encoste a minha cabeça à tua e, no silêncio, daquilo que ainda visiono, deixa-me cantar melodias, cantigas de infância ou histórias tontas, alegres ou simplesmente, tristes. Escuta-me com doçura e ata as tuas mãos às minhas…
Escuta comigo o silêncio e partilha a tua hora de compaixão ou paixão juntinho a mim.
Olhemos o horizonte, sentemo-nos na relva do nosso jardim, que outrora cuidei, amei e onde fui feliz. Se soubesses como escutei a voz da terra  e entendi, finalmente, que a ela pertenço!
 Se soubesses como fui feliz a contemplar o pôr do sol, as aves que pairavam sobre mim, o horizonte que apenas me abraçava e me contemplava, o vento que ora zunia e fazia arrepiar a minha pele com frio ou, então beliscava o meu corpo que por ele ansiava - corpo deitado ao comprido na maciez do jardim…

Ali compreendi que não é preciso muito para ser feliz e voltar de novo a ser petiz.

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DRAGÃO DE FOGO

Um gigantesco  incêndio  lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima,  serpenteia  o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem  avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
Gosto tanto de uma boa companhia! Que desagradável, quando te substituem pelo telemóvel!( E falamos nós dos mais novos!) Gosto de estar acompanhada e de acompanhar. Abrando o passo para que o Outro possa caminhar ao meu lado. Não sirvo para ilha, ainda que procure o silêncio para me escutar e renovar. Prefiro a troca de palavras e até comer de boca cheia para responder a quem questiona. Que desagradável é, fugir do olhar de quem está contigo, refugiar - se no mundo do lado de lá, sem notar quem está de cá. Algo me diz que é falta de educação, mas quem sou eu para apontá-lo a quem já passou há muito os 18 anos!? Não tenho jeito para o silêncio quando sou companhia. Mas respeito. Porém, também reflicto : nem sabes tu, desse lado que és tu, que acabaste de perder uma companheira. 🤔 (Celina Seabra)
Entre a gente também há solidão. - Foram mais ou menos estas as palavras da Raposa ao Principezinho. Sábia afirmação. Sorriso pintado é colocado tantas vezes para disfarçar o smile da tristeza, do vazio. Hoje ninguém está só. O ruído atordoa quem se extingue por dentro. A diferença preenche o desequilíbrio. Mais uma madeixas diferentes, uns tattoos extravagantes, uma maquilhagem exuberante e uma indumentária de outro mundo e ficamos sãos! Somos o que vendemos por fora e encobrimos os sentimentos que só angústiam e não resolvem a qualidade de vida. A solidão não faz amigos. Vende-se a felicidade e arranjam-se mil formas de preencher o vazio que se encharca com comprimidos, com alucinógeneos, com apostas miraculosas, com tecnologias diversas que nos encantam, absorvem e cansam... E precisamos de dormir. Não é preciso pensar. Embebedamos a Razão que é má companhia. A tristeza é barreira ao sucesso e o mundo é dos que constroem sucesso e aparentam ser Tão Felizes! (CELINA Seabra)