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Não nasci poeta, mas sei amar a poesia.
Sei como lê-la, declamá-la, como tratar dela, como transformá-la em minha.
Não são meus filhos, mas sinto como se fossem meus, os poemas que escreves.
Sou madrasta boa que os amo como serva...
Não sou poetisa, mas amo a poesia.
As palavras soam-me a música no coração. São quentes, bondosas, misteriosas, estranhas e outras até esquisitas, mundanas, horripilantes, forasteiras... Mas são palavras, ordenadas, desconcertadas, trabalhadas na bigorna do ferreiro que as molda, nem sempre porque as sente, mas porque é artista, artesão, nauta, médico, professor, lavrador ou, então, simplesmente, sonhador.
Que inveja eu sinto de ti, poeta, que sabes libertar a tua alma, amalgamando-a a tantas outras!
Que arrebatamento quando leio em ti aquilo que sou, ou que fui ou que desejaria ser.
Que surpresa, quando estranho as imagens que traduzem o que nenhum outro consegue dizer.
Venero-te e idolatro o dom que, e continuo a acreditar, herdaste de Deus.
És prodígio, assombro, anjo caído do céu...
E sinto ciúme dentro do vaso que vive dentro de mim. Está vazio, oco, secou... dentro dele nada prosperou.
Almejei ser gente... passei entre a gente... Quem me viu?
A chuva cai lá fora, mas hoje não cai dentro de mim. 
Os sulcos apenas limpam as janelas que outrora visualizaram paraísos terrestres. 
Sou gota num oceano torrencial. Talvez não abra sulcos, mas apenas transborde e suba a orla  que criaram em mim. 
Ah, fosse eu poeta, quanto diria!!!

( Celina Seabra)

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DRAGÃO DE FOGO

Um gigantesco  incêndio  lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima,  serpenteia  o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem  avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
Gosto tanto de uma boa companhia! Que desagradável, quando te substituem pelo telemóvel!( E falamos nós dos mais novos!) Gosto de estar acompanhada e de acompanhar. Abrando o passo para que o Outro possa caminhar ao meu lado. Não sirvo para ilha, ainda que procure o silêncio para me escutar e renovar. Prefiro a troca de palavras e até comer de boca cheia para responder a quem questiona. Que desagradável é, fugir do olhar de quem está contigo, refugiar - se no mundo do lado de lá, sem notar quem está de cá. Algo me diz que é falta de educação, mas quem sou eu para apontá-lo a quem já passou há muito os 18 anos!? Não tenho jeito para o silêncio quando sou companhia. Mas respeito. Porém, também reflicto : nem sabes tu, desse lado que és tu, que acabaste de perder uma companheira. 🤔 (Celina Seabra)
Entre a gente também há solidão. - Foram mais ou menos estas as palavras da Raposa ao Principezinho. Sábia afirmação. Sorriso pintado é colocado tantas vezes para disfarçar o smile da tristeza, do vazio. Hoje ninguém está só. O ruído atordoa quem se extingue por dentro. A diferença preenche o desequilíbrio. Mais uma madeixas diferentes, uns tattoos extravagantes, uma maquilhagem exuberante e uma indumentária de outro mundo e ficamos sãos! Somos o que vendemos por fora e encobrimos os sentimentos que só angústiam e não resolvem a qualidade de vida. A solidão não faz amigos. Vende-se a felicidade e arranjam-se mil formas de preencher o vazio que se encharca com comprimidos, com alucinógeneos, com apostas miraculosas, com tecnologias diversas que nos encantam, absorvem e cansam... E precisamos de dormir. Não é preciso pensar. Embebedamos a Razão que é má companhia. A tristeza é barreira ao sucesso e o mundo é dos que constroem sucesso e aparentam ser Tão Felizes! (CELINA Seabra)