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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2017

Guerreira

Nasceste guerreira. Dona da tua pessoa e do teu universo. És rainha, senhora da tua vida, do teu mundo e dos teus degredos. No teu coração bate a força de quem não desiste. És águia-real, senhora do céu e dos mares. Com as tuas mãos lapidas as pedras que te entregaram e fazes delas milagres da natureza, obras de arte. Ladrilhas o teu caminho e torna-lo mais simples, menos íngreme. És senhora de Coragem – alma lusitana! Transportas em ti todos os sonhos dos tempos áureos do passado e procuras desfazer o terror que os teus antepassados deixaram. Foram egoístas, cruéis e desonestos. Mancharam o sangue que corre ainda nas tuas veias. Mas nem por isso, desistes. Não se vive do mal que se fez no passado. Apenas se pode alterá-lo para fazer o bem. Lusitana é o teu nome. E nele misturas o cheiro dos pinheiros e o odor do sal. A aliança que transportas é a da força do povo entrelaçada à gentileza da aristocracia de Isabel de Aragão. És Inês apaixonada, fiel até à morte; és Deul...

Bicho faz de conta

Sonhei ser anjo, mas não tinha asas para voar. Sonhei ser estrela mas faltou-me o brilho interior para iluminar a noite. Quis ser arco-íris mas esqueci a paleta das cores e só pude ser um traço no horizonte. Ofereceram-me a lua, mas evitei tocá-la e virei planeta solitário, um ponto minúsculo perdido numa galáxia infinita… Quis ser planície, porém ergui muralhas ao meu redor. Achei que podia ser lar, fogueira, trave, mas comecei pelo telhado… Ofereci sorrisos, enquanto mendigava amor… Encobri imperfeições por detrás de uma máscara de porcelana. Construí-me cristal, mas parti- me em pedaços… Achei ser romântica, mas não soube amar. Pintei-me de sonhos, de esperanças, de histórias mágicas, infantis e nunca aprendi a ser mulher! Hoje sou casulo, carapaça, bicho de conta que finge ser feliz. Se ao menos fosse de faz de conta!!! ( Celina Seabra)
Olha a chuva lá fora! Vê como o céu se encobre de nuvens grávidas de água! “ Está na hora!” – gritam as gotinhas aflitas por iniciarem o seu ciclo. – Queremos viajar até aos lagos, até aos rios que conduzem ao mar! Queremos velejar nessa folhinha que se agita, conduzida pelo vento teimoso que amua porque agora tem companhia! E as gotinhas traquinas fazem cócegas na barriga ovalada da nuvem mãe. E suplicam-lhe: - Ó mãe, juntas estamos bem, mas queremos percorrer os ares, também! Pretendemos voltar à terra-mãe e matar a sede às sementinhas que precisam de germinar,  ajudá-las a crescerem! Queremos encher os lagos, limpá-los do lodo, clareá-los de oxigénio e dióxido de carbono e despoletar a vida, acordá-la daquele longo sono, conceder a quem nele manda o seu trono! Queremos encher os rios, os açudes, as barragens e socorrer os que têm sede! Queremos limpar o pó que se depositou sobre os campos, sobre os telhados da tua casa e sobre as árvores que escondem ninhos. Queremo...

Ah!

Ah, não ser eu vento e tudo varrer do pensamento! Ah, não ser água e poder limpar-me de todas as impurezas que a vida traz. Ah, não poder ser Maga e transformar em véu o farrapo que há em mim! Ah, não poder ser eco, para poder gritar no vácuo e deixar-me ir. Ah, não poder ser nada, para tudo esquecer e nada temer! Ah, não poder ser céu, límpido espelho do mar revoltoso que tantas vezes rebenta em mim. Não poder ser estuário para poder abrigar o ser inquieto e todo o seu chinfrim. Não poder ser rocha para não chorar, não sentir… Não poder ser terra para em fertilidade me reproduzir… Ah, não poder ser como toda a gente que passa, anda, ausente dos outros e de mim! Não poder pendurar a alma que se refugia, num estendal, e deixar voar o ruim… Ah, não poder ter a coragem do relâmpago que ilumina a noite sem fim! Ah, não poder ser útil como um dos vasos do meu jardim. Ah, não poder ser flor para alguém poder tratar de mim. ( Malmequer, alecrim ou até a giesta que a...

um abraço

Que bom um abraço, um xi-coração, Vindo de ti, é uma bênção! Teus ombros são fronhas de penas de pavão Tuas mãos duas conchas, sempre à minha disposição,  E por elas bebo toda a tua devoção. Em teu rosto, amável, vejo adoração Querido pai, anjo amável , expressão de gratidão… Amor assim, não tem terminação.   ( Celina Seabra)
Olha a menina invejosa, que não gosta do que tem Olha tudo ao seu redor e acha que não está bem. Não gosta de ver-se ao espelho, pois acha-se horrorosa Gorda, desproporcionada, sem jeito, inveja a estilosa. Não tem carro, nem casa de jeito, a  tudo  torce o nariz olha de soslaio quem a rodeia  e faz o outro infeliz. Não suporta, nem fala aos vizinhos, mas espreita a sua vivência Anseia por tudo e por nada, constrói em si violência. Ó menina invejosa, os outros deixe de olhar Já se perguntou a si mesma que nem todos têm lar? Sente-se só e vazia, mas família sempre tem É o centro do mundo, tem pai e ainda, tem mãe! Vive em casa graciosa, comida nunca lhe falta, Acha que ninguém a vê, mas todos a põem na ribalta. E quando precisa de ajuda, braços se abrem para ti Flores, beijos e mimos, até gemas  de rubi. Então menina mimada, olhe bem ao seu redor, acarinhe quem tem a seu lado e não lhe faltará Amor! O que vai nos outros lares,  tu não deves...
Ao redor era primavera. A chuva de inverno dera lugar a dias soalheiros e longos. O ar era quente e perfumado. Cheirava a flor de laranjeira. O aroma inebriante entontecia-me, mas não me desagradava. Pelo ar, esvoaçavam abelhas, atarefadas em retirar das flores o máximo de pólen e néctar… Pipilavam pássaros de espécies variadas: pardais, tentilhões, melros de bico amarelo, pintassilgos… Um chapim azul atarefava-se em fazer a corte a uma fêmea. O seu canto era suave. Havia nele toda a magia do enamoramento. A relva era macia. Húmida do orvalho das manhãs de primavera. O rio calmo no seu passeio matinal, espreguiçava-se ao longo do campo verdejante e as suas margens descansavam sob a sombra dos freixos e choupos grandiosos que por ali bordejavam e viviam. Apetecia entrar dentro daquele espelho límpido em que se refletiam árvores frondosas e um céu de azul esfuziante. Cobiçava aquela paz… O reflexo daquele canto verdejante onde ficaram os meus pesadelos, esbatia-se na água ...