Olha a chuva lá fora!
Vê como o céu se encobre de nuvens grávidas de água!
“ Está na hora!” – gritam as gotinhas aflitas por iniciarem
o seu ciclo. – Queremos viajar até aos lagos, até aos rios que conduzem ao mar!
Queremos velejar nessa folhinha que se agita, conduzida pelo vento teimoso que
amua porque agora tem companhia!
E as gotinhas traquinas fazem cócegas na barriga ovalada da
nuvem mãe. E suplicam-lhe:
- Ó mãe, juntas estamos bem, mas queremos percorrer os ares,
também! Pretendemos voltar à terra-mãe e matar a sede às sementinhas que
precisam de germinar, ajudá-las a
crescerem! Queremos encher os lagos, limpá-los do lodo, clareá-los de oxigénio
e dióxido de carbono e despoletar a vida, acordá-la daquele longo sono,
conceder a quem nele manda o seu trono! Queremos encher os rios, os açudes, as
barragens e socorrer os que têm sede!
Queremos limpar o pó que se depositou sobre os campos, sobre
os telhados da tua casa e sobre as árvores que escondem ninhos.
Queremos varrer as cinzas que encobrem húmus e dar um
empurrão às florestas para que retomem o seu rumo.
E as gotinhas precipitaram-se em direção à Terra. Umas
juntaram-se às muitas que enchem os mares, outras salvaram os rios que por ali
estavam esquecidos e muitas caíram sobre o telhado da minha casa e sobre a
relva do meu jardim!
( Celina Seabra)
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