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Olha a chuva lá fora!
Vê como o céu se encobre de nuvens grávidas de água!
“ Está na hora!” – gritam as gotinhas aflitas por iniciarem o seu ciclo. – Queremos viajar até aos lagos, até aos rios que conduzem ao mar! Queremos velejar nessa folhinha que se agita, conduzida pelo vento teimoso que amua porque agora tem companhia!
E as gotinhas traquinas fazem cócegas na barriga ovalada da nuvem mãe. E suplicam-lhe:
- Ó mãe, juntas estamos bem, mas queremos percorrer os ares, também! Pretendemos voltar à terra-mãe e matar a sede às sementinhas que precisam de germinar,  ajudá-las a crescerem! Queremos encher os lagos, limpá-los do lodo, clareá-los de oxigénio e dióxido de carbono e despoletar a vida, acordá-la daquele longo sono, conceder a quem nele manda o seu trono! Queremos encher os rios, os açudes, as barragens e socorrer os que têm sede!
Queremos limpar o pó que se depositou sobre os campos, sobre os telhados da tua casa e sobre as árvores que escondem ninhos.
Queremos varrer as cinzas que encobrem húmus e dar um empurrão às florestas para que retomem o seu rumo.
     E as gotinhas precipitaram-se em direção à Terra. Umas juntaram-se às muitas que enchem os mares, outras salvaram os rios que por ali estavam esquecidos e muitas caíram sobre o telhado da minha casa e sobre a relva do meu jardim!

     
E quando o sol aparecer, fogoso em todo o esplendor, estas meninas-gotinhas hão de novamente aquecer e assumirem o fenómeno da evaporação. E depois…nuvens e nevoeiros voltarão e a isto se chama, processo de condensação! 

( Celina Seabra)

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DRAGÃO DE FOGO

Um gigantesco  incêndio  lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima,  serpenteia  o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem  avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
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