O passado bateu-me à
porta e trinta anos depois presenteou-me com lindas recordações!
Afinal, não sou olvidável! A
memória recorda-nos o Bem e o Mal, se houve.
A curiosidade de saber, pelo
menos, onde pára aquele que fez parte da tua vida, permanece.
A memória investiga a mais ínfima
pista na gavetinha do que é inesquecível. Um cheiro, uma voz, um olhar, uma
palavra, são o suficiente para viajar até ao Ontem.
A imagem que criaste em mim vai ficando mais
lúcida, transparente e, de repente, sai da neblina em que permanecera durante
anos. É o ter sido tua “ colega de carteira”, são os teus cabelos
encaracolados, é a expressão dos teus lábios, é aquele casaco cujo tom varia
entre o castanho e o laranja ( se calhar, era mesmo castanho!).
E voltas a ser Tu, quando te
encontro.
É verdade que o Tempo deixou
marcas, pois já não somos as meninas de outrora. Hoje temos algumas rugas,
engordámos alguns quilos, esticaste o cabelo e escondeste os caracóis, porém
continuas a ser Tu. Há corações que continuam a bater em sintonia e os nossos
permaneceram dentro do mesmo ritmo. Não somos estranhas, ainda que trinta anos
tenham passado! O abraço é sincero, a conversa flui e o silêncio não incomoda.
Contigo recordo
outras amigas (poucas!) e, também, aquelas que deixaram marcas pouco positivas.
O destino ou Deus encarregou-se de as penalizar e advertir. Acredito na
reciprocidade: do Bem e do Mal. A roleta da Vida nem sempre premeia quem não
merece. A roda gira, nem sempre na mesma direção. A vida desgasta-a, as
dobradiças tornam-se da cor da ferrugem, e às vezes, só uma boa lapidação a
volta a colocar no lugar certo.
O presente
também me traz perplexidade e anuncia-me a morte de uma mulher da minha idade,
também amiga do 3ºciclo e que, de alguma forma, ocupou um
espaço importante naquele tempo em que eu era apenas uma menina tímida,
envergonhada, voltada para o seu interior e com medo da sua própria sombra. “
Cila”, onde estás? Recordo os teu cabelos compridos, ondulados e da cor das
espigas que outrora germinaram em abundância nos campos da Beira Alta… Partiste
“ tão cedo desta Vida”, possivelmente descontente…
Espero que
esta réstia de vivência de que fizeste parte e que ainda ocupa o sótão das
minhas recordações felizes, desperte, no anjo em que te tornaste, um sorriso. O
meu pensamento por ti, hoje, é de oração. Até um dia!
À minha “
amiga de carteira” um até breve, pois o Destino voltou a colocar-nos no mesmo
caminho.
( Celina Seabra)
( Celina Seabra)
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