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Ser PROFESSORA

Alguém me perguntou:
-  o que é ser professora?
Passados tantos anos e vivenciadas tantas emoções, o meu coração balança entre a dúvida e a certeza da escolha que outrora fiz.
Porém, quando reflito, todo o meu Eu me diz que não poderia ter escolhido outra profissão.
Hoje não só sei ensinar como também continuo a viver para os meus alunos. Sou boa ouvinte e alguns ( infelizmente, alguns apenas…) continuam a ouvir-me, a apostar em mim a sua crença na vida e na aprendizagem.
Ser professora é ensinar, mas falar também, trocar ideias, experiências, fazê-los lembrar que a maturidade é sabedoria e que a experiência é mais importante que a teoria.
Ser professora é estar lá e cá, ao mesmo tempo. É olhar os seus alunos (e são muitos!)e perceber o que pensam, se estão contigo, se estão ausentes procurando mundos diferentes daqueles que lhes ensino, é olhar ouvindo-os; percebendo-lhes as suas vontades, as suas dores, as suas diferenças…
Ser professora é estar atenta a todos os sinais – exteriores e interiores. É ser vigilante. É ladrilhar caminhos de luz, de esclarecimento. É entender os obstáculos, as novidades, as ausências, os silêncios e até as agressões.
Ser professora é amadurecer com os meninos, é aprender a linguagem nova dos adolescentes, é investir nos estrangeirismos, nas abreviaturas, deixar no seu sotaque a sua assinatura.

Ser professora é ser capaz de perdoar, é embalar com a voz um coração ferido… é sorrir, até quando não há motivos para o fazer.
Ser professora é continuar a ser estudante, permanecer em contacto com a realidade circundante e com as novidades estonteantes!
Ser professora é olhar para trás e ver que foram palmilhados vários caminhos, que houve mais encontros que desencontros, que servimos de base para o médico, o arquiteto, o engenheiro, o costureiro, o juiz, a atriz, o ministro, o rei e até o infrator à lei.
Ser professora é ser amiga, psicóloga, teóloga, musicóloga…
É ser atriz, palhaça, trapezista, uma verdadeira artista.
Ser professora é ser mãe, irmã, estrela da manhã…
É ser paciência, sapiência, escultor e também mentor.
É estar a horas, engolir as lágrimas que por dentro chora, conduzir a aula com precaução a fim de exigir muita atenção.
Ser professora é dedicar tempo ao trabalho dos outros. É corrigir, sublinhar, elogiar e emendar. É perder fins-de-semana para poder pensar em novos trabalhos para realizar.
Ser professora é querer cativar para mais tarde a vitória poder celebrar.
Ser professora é cair, muitas vezes, na exaustão e até na depressão só porque o mundo se esqueceu que ser professora também é coração.
E o tempo passa. Os meninos crescem, tornam-se homens e mulheres e partem. E o mestre fica, por vezes triste, vazio, porque com eles partem também os versos que lapidara, que aperfeiçoara. São avezinhas  que voam para outras paragens. O saber levam-no consigo e, talvez, se recordem um dia do mestre seu amigo. Na memória que aos poucos se vai desgastando, guardam-se os seus nomes. Por vezes a chave não voltará a abrir este cofre precioso. Fica a saudade. Talvez um dia se cruzem contigo e já velhinha te abracem e te chamem “ querida setorinha!”
 Entretanto chegam à escola novos meninos e a professora espera-os. Abre a porta da sala de aula e  convida-os a entrar: “ Bom dia, meninos!” – diz-lhes.
“ Bom dia, professora!”
E aqueles meninos são as nossas flores, a nossa esperança, o nosso rejuvenescimento…
Ou, então, serão o sonho mau, a apatia, a agonia que não produz fruto, mantendo-se diamante bruto
E o trabalho do professor é o do oleiro: moldar diversas vezes o barro que teima em quebrar. Paciente, cauteloso, há de arranjar forma de construir um vaso maravilhoso.
E as mãos da professora passam a ser varinhas de condão que Deus pôs à sua disposição.

Em ilhas diferentes encontra a felicidade e a sua recompensa será a imortalidade.
( Celina Seabra)

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