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Filho

Plantei uma árvore, rascunhei um livro, escrevi poemas e gerei um filho.
Este, a joia mais preciosa, o tesouro imensurável e divino.
Acarinhei, tratei, alimentei, amei, ensinei-lhe a distinguir o bem do mal e a ser verdadeiro, honesto, humilde e amigo.
Mostrei-lhe o mundo dos livros e prendi-lhe todos os sentidos.
Apaixonei-me.
O teu sorriso, a tua voz, as tuas feições, as tuas marcas, são o meu alimento espiritual.
Guardei-te na moldura do meu coração, no espelho da minha alma, nos afetos da minha memória.
Cresceste.
Mudaste por fora e, também, por dentro.
Afastaste os teus braços do meu pescoço, esqueceste o meu colo que te serviu de ninho, escapaste para um mundo que já não é meu.
Os teus brinquedos foram esquecidos e abraçaste as novidades. Estás encantado com toda a informação que circula ao teu redor. As luzes, os gritos, a música clamam por ti.
Deixaste de olhar com atenção o céu, o sol, os teus animais de estimação e tudo aquilo que é verdadeiramente teu.
Cativaste amigos à distância e que não conheço. Tornaste-te popular.
O teu mundo é agora uma redoma onde não é fácil penetrar.
O teu olhar já não pousa em mim…
Sentes-me tua até ao fim.
Tesouro sagrado, amor sem fim, observo-te a sorrir, mas estás longe de mim.
Quem brinca nos teus lábios, quem te desprende assim?
Que Circe melosa ou que serafim,
Quem te conduz, meu benjamim?
A mãe espera.
Pede cautela.
Não te aventures,
Escolhe uma estrela,
Sem guia, sem luz, promete-me:
recolhe a vela.
Sê barco seguro e pensa no futuro.

Tua mãe espera, pois por ti,  abdico da primavera.
( Celina Seabra)

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DRAGÃO DE FOGO

Um gigantesco  incêndio  lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima,  serpenteia  o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem  avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
Gosto tanto de uma boa companhia! Que desagradável, quando te substituem pelo telemóvel!( E falamos nós dos mais novos!) Gosto de estar acompanhada e de acompanhar. Abrando o passo para que o Outro possa caminhar ao meu lado. Não sirvo para ilha, ainda que procure o silêncio para me escutar e renovar. Prefiro a troca de palavras e até comer de boca cheia para responder a quem questiona. Que desagradável é, fugir do olhar de quem está contigo, refugiar - se no mundo do lado de lá, sem notar quem está de cá. Algo me diz que é falta de educação, mas quem sou eu para apontá-lo a quem já passou há muito os 18 anos!? Não tenho jeito para o silêncio quando sou companhia. Mas respeito. Porém, também reflicto : nem sabes tu, desse lado que és tu, que acabaste de perder uma companheira. 🤔 (Celina Seabra)
Entre a gente também há solidão. - Foram mais ou menos estas as palavras da Raposa ao Principezinho. Sábia afirmação. Sorriso pintado é colocado tantas vezes para disfarçar o smile da tristeza, do vazio. Hoje ninguém está só. O ruído atordoa quem se extingue por dentro. A diferença preenche o desequilíbrio. Mais uma madeixas diferentes, uns tattoos extravagantes, uma maquilhagem exuberante e uma indumentária de outro mundo e ficamos sãos! Somos o que vendemos por fora e encobrimos os sentimentos que só angústiam e não resolvem a qualidade de vida. A solidão não faz amigos. Vende-se a felicidade e arranjam-se mil formas de preencher o vazio que se encharca com comprimidos, com alucinógeneos, com apostas miraculosas, com tecnologias diversas que nos encantam, absorvem e cansam... E precisamos de dormir. Não é preciso pensar. Embebedamos a Razão que é má companhia. A tristeza é barreira ao sucesso e o mundo é dos que constroem sucesso e aparentam ser Tão Felizes! (CELINA Seabra)