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Mensagens

Um dia

Um dia destes vou com o Tempo. Quebro as algemas que me prendem ao inútil  e parto. Pertenço a um pequeno canteiro de flores temporais. O jardim é grande e a flora variadíssima. Não notarão que fui. Porque a primavera há de sempre brotar. ( Celina Seabra)

Primavera

Cor. Muita Cor é o que desejo hoje. Luz, paleta de um pintor, para assim salpicar o cinzento do inverno que se despede. Vai para longe. Emigrou para outras paragens. Arrasta consigo o seu capote de tempos infinitos.  Parece cansado. Suas pernas gostariam de ficar. De confraternizar com a primavera. Mas o relógio do Tempo não se atrasa. E o Mundo aqui parece aborrecido. Tanta chuva! Ao longe ainda avista a magistral primavera. Nutre por ela uma paixão platónica. Ela está no seu auge. Menina-donzela, radiante, fresca, colorida! Não envelhece, a primavera. Mas, também,... acabou de brotar, de nascer de novo. O seu rosto irradia luminescência, Toda ela é graça e cor. Os seus vestidos pintalgados de flores, árvores, ninhos, aves, são a coloração da Vida que desperta. No seu ventre traz a bonança. Nos seus braços o Amor. Nos seus olhos as estrelas da manhã e nos seus cabelos os diferentes odores que convidam a segui-la.  Quem a vê, rende-se-lhe. Torna...

Deixar-me ir...

S audades de quem não me quer. Saudades de tempos imaginários. Angústia que se desconhece. Solidão que teima em sobreviver. Sorrisos que se desenham... pura simulação. Desejo de estar triste. Masoquismo egoísta. Inglória do presente. Esquecimento eterno. Melancolia que não se apaga. Cansaço que se entranha... Nada fazer. Nada ser. Deixar-me ir. ( Celina Seabra)

Sono

Mente vazia corpo semi-presente sonolência anestesiante apelo da noite voz do descanso. corpo estendido. forças perdidas. coração tranquilo. energia guarnecida. Voz da noite. olhos que se fecham. mente que vagueia. sonhos? Ideias? Pesadelos? Reconstrução. Amanhã é um novo dia! ( celina Seabra)

Palavras

Está tudo feito. Já tudo foi dito.  Já de tudo se escreveu. As palavras surgiram. Primeiro sons, depois pequenas formas de dizer, de chamar, de compreender, de amar e até de ofender. As palavras tornaram-se um mar. Algumas mergulharam num abismo e não têm retorno.  Outras encontraram terra onde ficar. Alguém, um dia, se lembrará de as ir repescar. À tona navegam uma infinitude de termos.  Alguns debatem-se pela sobrevivência. Não querem passar à imersão. Combatem pela sua difusão. Outros acotovelam-se entre a concorrência.  Querem marcar presença.  E aquelas que longe dos comuns invulgares se mantinham, aproximam-se para não se transformarem, em ilhas. Usam luvas de pelica. O cheiro fétido da vulgaridade incomoda-as. É que o Calão,  que dentro da hierarquia se situava no mais baixo escalão, vê a oportunidade chegar e em popular se tornar. Hoje o ensino não cativa, aborrece. As palavras que são a nossa pátria ficam esquecidas para sere...

Lista de Desejos

S oubera eu cantar e louvaria o mundo eternamente. Soubera eu voar e emigraria com as aves que procuram lá longe, aconchego e calor, Soubesse eu escrever e não largaria a pena enquanto a mão não me doesse. Soubesse eu pintar e gravaria nas telas toda a imensidão mágica que vejo ao anoitecer. Pintaria o silêncio e moldaria em barro as palavras que se esquecem e fazem frio cá dentro. Soubesse eu, tocar e viajaria em notas musicais, envolvida em tangos sensuais, em musicais intemporais ou em simples duetos rurais. Soubesse eu bordar e teceria a minha alma a ti... Fosse eu médica e cirurgicamente clonaria a tua força e sede de viver. Ah, e se fosse maga, feiticeiro de Oz? Inventaria uma Irmã só para mim! Apagaria esta Dor que teima em crescer e parece não ter fim. Fosse eu os Outros e moldá-los-ía com afagos e beijos de cetim. Fosse eu árvore e protegeria todos os bosques que imagino, todos os ninhos que não serviram de berço, todas as flores que nem em broto...

Noite de Carnaval

Frio. Noite de Carnaval O samba acontece lá fora Quem dança esquece o gelo A música fantasia o castelo E as pedras da estrada debaixo dos pés em chinelo Passam a tapetes bordados por fadas ornamentados por fios de lua. Frio na rua. Gelo no corpo dormente. Não sambo, observo E o frio rompe inclemente Torna-se meu principal oponente Nesta noite mágica de carnaval Desejo que termine... Estranhamente. ( celina Seabra)