O mundo parou na minha casa.
Só existimos nós.
Lá fora há só um caminho e este tem uma única entrada e uma única saída. Não há semáforos, nem grandes avenidas, nem parques temáticos ou citadinos. Não há néons publicitários, nem monumentos para visitar. Não há centros comerciais vazios, nem restaurantes e lojas fechadas. Não vejo prédios, nem altos nem baixos, e não há sinais de trânsito que me alertem e me obriguem a arriscar.
Estamos sós, sem nos sentirmos sós.
O céu é o nosso mar: azul, imenso e infinito. Abobado, é o nosso barco e partimos em viagens sem agendamento nem pressas. Ficaram para trás os horários, os mapas físicos a estudar e os panfletos estão por desdobrar. A viagem é feita sem pressas. O mar é fácil de navegar e o pensamento tem muito para imaginar.
Desembarco.
E o corpo estendido na relva do jardim entrega-se a prazeres que tu não ousas contar.
A música abraça-te e convida-te a dançar. O corpo acompanha aquele doce ondular. São abraços, conforto, são o teu repousar.
A rádio não toca e o que eu ouço é um vibrante trautear: grilos, ralos, pássaros, juntaram-se e são orquestra sinfónica que não tens de pagar. Trinam, chilreiam, assobiam, piam... cricrila o grilo e a cigarra canta... Não os vejo, mas estão ao meu redor. E o vento insistente que refresca aquele que podia ser um dia perfeito de sol, faz girar os moinhos coloridos que enfeitam os vasos do jardim.
( O mundo parou lá fora, mas a primavera rebenta em beleza e é barulhenta!)
E ao nosso redor misturam-se
aromas.
Os perfumes que me embriagam não são os que se vendem em frascos de cristal; são os que extasiam os sentidos ao natural. Adocicados, mistura de laranja e jasmim e onde não falta o aroma da rosa e do alecrim.
O meu jardim não é perfeito, nem tem o toque exuberante do francês ou do exótico, é um espaço natural, com formas e ondas curvas onde a energia pode circular.
Em suma, é o meu lar. Longe do mundo, longe de olhos que não me querem bem nem mal,
perto de mim, dos meus e onde me volto
a (re)encontrar.
(Celina Seabra)
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