Avançar para o conteúdo principal

Meu filho muito amado

Plantei uma árvore, rascunhei um livro, escrevi poemas e gerei um filho.
Este, a joia mais preciosa, o tesouro imensurável e divino.
Acarinhei, tratei, alimentei, amei, ensinei-lhe a distinguir o bem do mal e a ser verdadeiro, honesto, humilde e amigo.
Mostrei-lhe o mundo dos livros e prendi-lhe todos os sentidos.
Apaixonei-me.
O teu sorriso, a tua voz, as tuas feições, as tuas marcas, são o meu alimento espiritual.
Guardei-te na moldura do meu coração, no espelho da minha alma, nos afetos da minha memória.
Cresceste.
Mudaste por fora e, também, por dentro.
Afastaste os teus braços do meu pescoço, esqueceste o meu colo que te serviu de ninho, escapaste para um mundo que já não é meu.
Os teus brinquedos foram esquecidos e abraçaste as novidades. Estás encantado com toda a informação que circula ao teu redor. As luzes, os gritos, a música clamam por ti.
Deixaste de olhar com atenção o céu, o sol, os teus animais de estimação e tudo aquilo que é verdadeiramente teu.
Cativaste amigos à distância e que não conheço. Tornaste-te popular.
O teu mundo é agora uma redoma onde não é fácil penetrar.
O teu olhar já não pousa em mim…
Sentes-me tua até ao fim.
Tesouro sagrado, amor sem fim, observo-te a sorrir, mas estás longe de mim.
Quem brinca nos teus lábios, quem te desprende assim?
Que Circe melosa ou que serafim,
Quem te conduz, meu benjamim?
A mãe espera.
Pede cautela.
Não te aventures,
Escolhe uma estrela,
Sem guia, sem luz, promete-me:
recolhe a vela.
Sê barco seguro e pensa no futuro.
Tua mãe espera, pois por ti,  abdico da primavera.

( Celina Seabra)

Comentários

  1. Sei que te pertenço, ainda que só no teu pensamento. " Sim, é um amor para a vida toda." Amo-te, meu querubim.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

DRAGÃO DE FOGO

Um gigantesco  incêndio  lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima,  serpenteia  o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem  avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
Entre a gente também há solidão. - Foram mais ou menos estas as palavras da Raposa ao Principezinho. Sábia afirmação. Sorriso pintado é colocado tantas vezes para disfarçar o smile da tristeza, do vazio. Hoje ninguém está só. O ruído atordoa quem se extingue por dentro. A diferença preenche o desequilíbrio. Mais uma madeixas diferentes, uns tattoos extravagantes, uma maquilhagem exuberante e uma indumentária de outro mundo e ficamos sãos! Somos o que vendemos por fora e encobrimos os sentimentos que só angústiam e não resolvem a qualidade de vida. A solidão não faz amigos. Vende-se a felicidade e arranjam-se mil formas de preencher o vazio que se encharca com comprimidos, com alucinógeneos, com apostas miraculosas, com tecnologias diversas que nos encantam, absorvem e cansam... E precisamos de dormir. Não é preciso pensar. Embebedamos a Razão que é má companhia. A tristeza é barreira ao sucesso e o mundo é dos que constroem sucesso e aparentam ser Tão Felizes! (CELINA Seabra)

Pobre vs Rico

" Não peças a rico E não prometas a pobre"... Nunca o provérbio - voz do povo - esteve tão próximo da realidade do meu Hoje. Rico não dá. Queixa-se. Pobre não esquece. Necessita. Rico olha para ti apenas quando deseja extorquir-te alguma coisa. ( " Come a tua carne e despreza os teus ossos". Porque não tem dentes? Porque tem mais olhos que barriga.") Pobre olha para o chão e conta os seus passos no caminho que é de todos. Por vezes, não os distingue. Esquece-se de que são os seus. Rico nunca rouba. Serve-se do dinheiro dos outros para criar o seu império. Pobre pede ou envergonha-se de pedir... Rico tem sempre razão. Ai, daqueles que não lhe derem atenção! Pobre erra. Pede desculpa, titubeia e esconde o rosto na sua própria mão... Rico acha-se rei e pensa estar acima da lei. Pobre conta os trocados para pagar as contas ao Estado. Rico é capitalista. Acumula riquezas com o suor do proletariado. Pobre acha-se socialista. Na verdade, ele é um ideal...