Hoje sou outono.
A cor que me ornamenta é o amarelecido do trigo que recordo no pico do verão e a corola da cor do rubi é a gola que me aconchega.
O vento sopra suavemente e os pássaros abrigam-se nas árvores de folha perene.
As manhãs são mais silenciosas e o sol parece ter perdido o relógio. A fresquidão das madrugadas prendem-no ao poente. Espreguiça-se já a manhã está quase passada. Vem doirar as tardes outonais e fazer brilhar a palete de cores pastel com que se reveste a natureza.
Despede-se do Ocidente. O outro lado do mundo chama por ele. É Rei de todos e o calendário aponta-o agora nessa direção. A vida é uma valsa dançada em compasso ternário, porém o ritmo nem sempre é o mesmo. Depende do par a quem nos enlaçamos ou do mestre que ensina e exige de nós ou não, a perfeição.
Hoje sou outono.
Há folhas que se desprendem ao meu redor, que se vão e deixam-me nostálgica.
O vento que sopra é ainda brisa...
Não é novidade. Este outono era esperado.
Só não esperava um desfolhar tão repentino. A árvore que nasceu de um pequeno rebento e que aguentou invernos, - umas vezes chuvosos e turbulentos, outros mais acolhedores, de partilha de histórias, de olhares compreensivos, de abraços que se entendem -, que viveu primaveras longas de crescimento e verões auspiciosos, entrou, agora, no outono da vida e toda a sua imponência se reduziu ao tronco que suportou os ramos e toda uma diversidade de flores, folhas, frutos...
Nela viveram seres bonitos,especiais,singulares, extraordinários...
O trançado do meu cabelo reflete o cinza do metal e do inverno que se aproxima.
Há flocos de neve à mistura com a folhagem que me cobre.
Hoje despeço-me das folhas e das flores que se afastaram de mim. Desejo-lhes sorte e paraísos terrestres felizes.
Entretanto...
O inverno é longo e silencioso.
( Celina Seabra)
Texto dedicado aos meus colegas que partilharam a minha vida profissional e, alguns, a pessoal ... Foram mais de 20 anos.
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