Quem diria que passados trinta e quatro anos eu ouviria insistentemente, de novo, a música Hotel California por toda a minha casa.
Se com 15 anos de idade já me emocionava com o som indescritível do duo de guitarras que surgia no fim da canção, hoje ouvi-la transporta-me para o passado e desperta-me sensações.
Vejo-me naquela casinha da aldeia, pertença dos meus avós, onde passei muitas horas. Recordo o meu tio mais novo. Na altura, talvez, com vinte anos, mas absorto com o ornato da melodia que ocupava todos os cantos daquela casa.
Foi naquela aldeia perdida na serra que ouvi pela primeira vez Hotel California e foi amor " ao primeiro som"!
O meu tio tentava os primeiros acordes na viola que comprara para aprender música.
Hoje é o meu filho que a ouve e vibra com esta melodia inesquecível.
Ouço-a uma, duas, três... uma dúzia de vezes por dia.
Não sei se a sente como eu a vivo.
Os sentimentos que desperta em mim são os de nostalgia, mistério, quietude, paz, sonolência, a par de uma tristeza sem sentido, como se algo tivesse sido perdido para sempre. Talvez a minha juventude...
E a música - linguagem não verbal e universal - explode dentro de mim, dentro da minha imaginação e vislumbro alguém só, perdido, desorientado e como o náufrago, encontra um lugar para repousar. É um hotel pouco iluminado àquela hora, mas será a sua saída, o seu escape, a candeia com azeite que o conduzirá a sair daquela floresta labiríntica em que entrara.
Parece-me que não há retorno, só ilusão, pois a guitarra chora baixinho, traduz agonia, enredo, teia resistente. Mas não vejo demónios, nem rituais satânicos, nem orgias, nem sangue sobre o altar do sacrifício, nem as lendas que à sua volta se teceram. Não me importam. Só a guitarra que toca dentro de mim. Vibra, incendeia-me, apela ao choro, ao grito, à libertação.
Mas é também marco e flash do que deixei para trás.
A música liga-se de alguma forma a mim, ao ano em que nasci, às transformações que ocorriam, à luta pela emancipação, às tonterias da juventude, à quebra de regras...
" Welcome to the Hotel California
Such a lovely place (such a lovely place)
Such a lovely face.
Plenty of room at the Hotel California
Any time of year (any time of year) you can find it here."
Such a lovely face.
Plenty of room at the Hotel California
Any time of year (any time of year) you can find it here."
Será um Hino à perdição?
Talvez sim, talvez não.
( Celina Seabra)
A SABER:
Hotel California da Banda The Eagles, gravado e lançado em 1976. O álbum é um dos 15 mais vendidos da história do rock, tendo chegado a 20 milhões de cópias em 2009, segundo fontes extra-oficiais.
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