Sabes, há aquelas amizades que surgiram na infância e que depois permanecem adormecidas, não se sabe muito bem porquê, durante alguns anos, e um dia, quase por acaso, renascem, como se nunca tivesse havido um interregno.
A conversa flui, como se fosse natural. A atração pelo outro é íman magnético. Pólos que se aproximam e resultam. Espelhos onde nos revemos.
Esta amizade de ontem que voltou a ser hoje é como a sombra da noite que se fortalece com o pôr do sol da vida.
Amadurecemos.
Deixamos para trás a etapa do que se procurava, moldada pelos ditames da sociedade: trabalho, sucesso, poder...
Descobrimos que mais importante são os laços que se constroem numa boa conversa, num fim de tarde onde trocamos pareceres,
no doce que se partilha e no chá que nos anima e hidrata a voz.
Os amigos tornam-se especiais à medida que envelhecemos.
Escolhemos quem nos completa.
(CELINA Seabra)
Um gigantesco incêndio lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima, serpenteia o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
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