Se não tivesse olhos, talvez não cobiçasse a alegria dos outros.
Se fosse larápio, guardaria todos os risos do mundo e seria fingimento quando a sombra aparecer.
Se fosse pedra construiria a minha muralha
E deixaria de lado a sensibilidade.
Se pudesse ser outra
Seria alicerce
e não esta haste frágil de trigo que não foi colhido.
Se pudesse ser máquina
Deixaria de fora o coração.
Hoje sou só
Desalento,
Instabilidade e
Insignificância.
(Celina Seabra)
Um gigantesco incêndio lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima, serpenteia o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
Comentários
Enviar um comentário