Há sempre uma primeira vez.
O nascimento - uma só vez. Sem lembrança.
Talvez os medos, a ansiedade, a dor, sejam marcas desse momento. O subconsciente saberá, certamente.
O primeiro passo, seguido de outros que suportam a investida.
A primeira queda. ( Sem lembrança)
A primeira separação, regada de lágrimas. Mas tinha de ser.
Os primeiros colegas, os primeiros amigos, alguns perdidos no caminho da vida.
As primeiras letras, a primeira leitura, a contagem, a adição, a subtração, a multiplicação e começa a complicação.
O primeiro ciclo, o ensino básico, o secundário. A adolescência, as mudanças, as dúvidas...
A solidão inexplicável.
A atracção, o namoro e o Amor.
A universidade e os sonhos. A realização e a frustração. A responsabizaçao. O Amor.
O primeiro ordenado. Sentes-te afortunado.
A primeira gravidez. (No meu caso, a única.) As diferentes mudanças e sensações. A alegria de exibir uma barriga onde pulsa a vida! Os primeiros sons intrauterino. Som acolhedor, mágico... (Ainda o consigo ouvir: diferente, voz de gente que se mexe, tacteia e fala contigo!)
O parto. A espera.
A primeira experiência: ter nos braços aquele que será o teu Amor Maior. A paixão.
O crescendo dessa paixão que possui todos os teus sentidos. Que fase linda, a de ser Mãe!
Aprendizagem etapa a etapa.
Amadurecimento.
Partilha.
Aprender a libertar.
(Teimar em não deixar ir.)
Aceitar e
Deixar ir...
50 anos: meio século passado.
Novas mudanças.
Mais beleza e paz interior.
Maior compreensão e aceitação.
Contemplação.
Passado: lá atrás, no passado, nas recordações.
Presente: hoje certo. Amanhã? Quem sabe!
Futuro : sem promessas e sem pressa.
Metade do que foste mantém - se dentro de ti. Vitórias, erros, vacilaçoes, alegrias, sonhos... Todos guardados no baú da memória.
Talvez um dia, (se a doença não destruir a máquina cerebral) as possas folhear, sentada na cadeira de baloiço, a respirar o ar da serra ou do mar.
O espelho revela os primeiros cabelos brancos e as rugas engelham a tua pele de porcelana.
Ainda és tu dentro do corpo que ganhou peso e flacidez.
As primeiras dores. As mazelas do corpo que também se quebra.
Deixar para amanhã, porque já não consegues fazer hoje.
O corpo não obedece à tua sede de viver.
As forças faltam.
É a exigência que a vida faz para te despedires dela.
-Contempla o universo. - parece dizer. - Fixa- te nas estrelas, pois hão de ser os candelabros na tua última viagem.
A primeira para a eternidade.
(Celina Seabra)
Um gigantesco incêndio lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima, serpenteia o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
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