Aqui, neste canto do fim do mundo, encontro o meu berço singelo e simples.
O azul - paleta variável do céu - abriga o verde que se espraia pela montanha.
A beleza não é a do cinzel do Homem que sonha, pensa, constrói e destrói.
Há simplesmente Beleza
da natureza que se reconstrói ao sabor do tempo e dos ventos, das primaveras e dos vendavais.
Aqui, esporadicamente,
regresso ao útero materno e ouço, afastada, o respirar do mundo que apela a deixar - me estar.
O ar é anestesiante e o silêncio ensurdecedor.
Se pudesse, seria Bela Adormecida, aqui.
A natureza haveria de encobrir o meu corpo e o sono seria o da paz eterna.
Mas,
Sobre mim, paira o olho de Deus que vigia carinhosamente os meus passos e me beija para regressar à fuga civilizacional.
Fica a promessa : hás de retornar!
(CELINA SEABRA)
Um gigantesco incêndio lavra o meu país. É tão pequeno, este cantinho à beira-mar, e tão grande o dragão que há já alguns dias Tomou posse deste pequeno jardim… É um ser feroz, uma alma diabólica, egoísta, Que saiu das profundezas do inferno Onde estivera hibernado, e teima em fustigar de labaredas cintilantes um cantinho que já fora verde, muito verde, quase de encantar… A cauda chamejante, magnânima, serpenteia o meu Portugal E a alma diabólica, impetuosa, continua a criar paisagens dantescas. E sobre nós, um céu de bronze, asfixiante… As noites surgem avermelhadas e fuliginosas Como se tivessem acendido milhares de archotes. Ao redor, paira a cinza e as faíscas queimam as fagulhas Que já foram pinho… Mas o dragão não é fácil de atacar. Cavaleiros da paz constroem armadilhas e lutam Dia e noite a fim de vencer a Besta. Vidas são dizimadas, ceifadas como ervas daninhas… Ao dragão nada importa a não ser o prazer...
Comentários
Enviar um comentário