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Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2017

Desabafo de uma docente para outro docente... e para quem quiser e estiver com " pachorra" de me ler!

Que desprezo é esse com que deparo em relação aos professores que trabalham ou trabalharam em escolas com contrato de associação ou até no ensino privado? O que é que os meus colegas professores nos têm a apontar?  O que é que nós lhes roubámos?  Em quê, somos diferentes deles para deixarmos um ensino onde lecionámos 20, 30 anos e agora obrigam-nos a concorrer  ao ensino público e exigem que sejamos tratados como professores de segunda, como professores contratados? Que justiça é essa, quando nos distinguem em salários? Trabalhei, tal como TU, meu colega, 20, 30, 40 anos!!! Que melhor serviço fazem ou fizeram que o meu? Que melhor docentes são? Quantas vezes fizeram greve e eu não fiz, porque nunca pude? Quantas vezes ficaram com exames para corrigir porque os " senhores doutores" do Ensino Público, aderiram à greve e só contemplam os seus direitos? Quantas vezes não tiveram de adiar testes porque não aderiram às Greves estipuladas pelos Sindicatos pa...

Coração

Em mim sinto-o bater. É, às vezes, o pulsar ritmado, o tique tac regular e funcional Atento e racional. A ondulação fá-lo sorrir e o meu coração  ganha coragem com o porvir. Outras, é tremor, medo, tormenta. Dentro de mim parece onda que contra a costa rebenta. É medo inexplicável, taquicardia implacável! É desejo de nada, de ser insensível e impensável. De passar além sem dar por isso. De dormir sem compromisso. Ir, vaguear para não sentir. Coração, por que teimas ser dono de mim? Descontrola a emoção, Solta a minha alma, que voe tal o chapim e encontre o equilíbrio como a orquestra que em dia casual surpreende o passeante com um grande festim! ( Celina Seabra)

Conta a Lenda que Dormia ( poema de F. Pessoa)

Mais um lindo poema de Fernando Pessoa.  A Hora é agora de fantasia, de princesas encantadas e de príncipes que não desistem das suas demandas. Do outro lado do espelho há sempre uma mulher que sonha, que anseia pelo beijo perfeito e em ser aconchegada.  P´ra lá do muro, aguarda o príncipe valente. Os braços que a hão de proteger. A voz que mimará as suas dores. Os olhos que pousarão sempre nela e em silêncio lhe dizem " Amo-te, como um sedento por água viva!" A boca que comungará com a sua e a impedirão de voltar a adormecer. Porque dormir não é viver. ( Celina Seabra) Uma Princesa encantada   Conta a lenda que dormia Uma Princesa encantada A quem só despertaria Um Infante, que viria De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado, Vencer o mal e o bem, Antes que, já libertado, Deixasse o caminho errado Por o que à Princesa vem. A Princesa Adormecida, Se espera, dormindo espera. Sonha em morte a sua vida, E orna-lhe a fronte esquecid...

Alunos de treta = Ensino de treta

25 anos a ensinar. Dedicação, trabalho, empenho... trabalho, mudanças, adequação aos novos programas, ao novo acordo ortográfico, novos manuais...e melhorias não vejo nenhuma. Ano após ano, assisto à queda do ensino e à imposição de diplomas de final de curso a alunos que mal sabem escrever uma carta ou um relatório.  Há uma década  que me confronto com um ensino cada vez mais desgasto e insalutífero. É um ensino bom para professores baldas e alunos baldas! Mas eu que não consigo fazer as unhas durante as aulas e que odeio que me virem as costas e falem quando estou a falar?! Os meus progenitores ensinaram-me a respeitar. Aconselharam-me a ser humilde e íntegra... Já chorei muito. Já tive medo. Já coloquei em segundo plano a minha família e a minha saúde mental para prosseguir com aquela que escolhi para  profissão. Hoje tornou-se um " mau" carma. E eu ainda amo esta profissão. Dessem-me atenção e então, vibraria! Mas os meninos de hoje ( e falo nos mais velhos, so...

Paraíso perdido

A chuva cai sobre a terra seca e enegrecida e limpa-a das cinzas. É bem vinda e era ansiada. Água é vida e a vida explode no coração da Terra maltratada. Até quando esta desvalorização? Haverá maior beleza que observar uma paisagem verdejante e saudável? O paraíso perdido surge diante do meu pensamento: colinas, serras, vales decorados de densos arvoredos e vegetação rara, cores diversas; lugares recônditos onde o silêncio se esconde; nascentes transparentes; águas escorrendo por trilhos selvagens; orquestras de pássaros; sons naturais... e muita, muita paz ... ( Celina Seabra)

Terrorismo

Campos transformados em cinzas, montanhas fumegantes, raízes clamando por água para atenuar as graves queimaduras, corpos decrépitos, sem vida, matéria vegetal reduzida a pó. Flora irrecuperável, Fauna afugentada, outra perdida para sempre. Vento assustador que golpeias o dragão que por dias estivera adormecido, por que não te tornas brisa ou nada? Por que não puxas com a tua força todas as nuvens do céu e as esvazias sobra esta terra abafadora, sedenta de água e compaixão? Vento traidor que partilhas da depravação desse ser grotesco, adamastor que tudo consome e destrói! "Venha a nós essa água bendita!", parecem suplicar os pinheiros pretos que lembram esqueletos esguios num inferno dantesco. " Temos sede, sede de viver e queremos renascer!" Quem nos ouve? Quem as ouve? Não haverá paraíso terrestre se não te preocupares com a Terra que te abraça ao nascer e te acolherá quando morreres. ( Celina Seabra)

Corrupção

Há já alguns dias que ouço falar em corrupção.  Os meios de comunicação social fazem disso uma presença constante. José Sócrates, Ricardo Salgado, voltam de novo aos títulos de destaque com que abrem os noticiários. E nós, ouvimo-los como se "ser corrupto" fosse uma coisa normal. Dizemos alguns palavrões, condenamos os políticos e a Justiça, encolhemos os ombros passivamente e continuamos o nosso dia a dia. Habituámo-nos a ouvir falar destes " senhores ", de branqueamento, de corrupção passiva, de fraude, porém não esperamos nada da Justiça. Ela continua vendada e surda.  E, por isso, encolhemos os ombros. Se a Justiça não prende aquele que deveria ter sido o modelo para o cidadão comum, que poderei eu fazer? Algo está mal no mundo, porém ser corrupto não é de hoje. A corrupção é muito antiga e, possivelmente, não tem data de nascimento.Em todas as épocas, esta doença - corrupção passiva e/ou ativa - marcou presença na sociedade. Desde a Antiguidade Clá...

Dois gatos numa grande discussão

Mais uma surpresa pessoana! Uma lição de vida, afinal! Às vezes é precisa a intervenção da lucidez de quem sabe, de quem é mais velho e sabe impor respeito. Aos outros cabe resfriar os impulsos negativos e reconsiderar.  E é se queres  sobreviver à neve e aos frio! O orgulho petrifica a alma. [Dois gatos, numa grande discussão,]  Dois gatos, numa grande discussão,  Qu’riam ambos um rato morto: «É meu!»  Dizia um. O outro dizia , «Não!»  Com o pelo eriçado e os olhos feios,  Olharam-se, assopraram, e um no outro  Enterraram as unhas, sem rodeios.  Mas uma gata velha, em vez de a açoite,  A golpes de vassoura sem demora  Pô-los ambos na rua, e «boa noite!»  Não, «boa noite» não, que estava frio;  Havia um vento de cortar a pele,  E, além disso, caía a neve a fio.  Com tanto frio esfriou logo o furor  Dos rivais, que já estavam com saudades  Da cozinha ...

Eu

Mais um poema que me diz muito e que me desperta a vontade de escrever, também. EU, tudo e tantas vezes nada. Eu, alma prisioneira num mundo para o qual não fui feita. Eu, pássaro de gaiola de inquieto canto. Eu, dúvida, interrogação, ansiedade, medo. Eu, esperança, ingénua, vidente, perspicaz, luz. Eu, eu, eu,... entre os outros eus iguais, parecidos e diferentes do meu eu. ( Celina Seabra) Vamos agora ao verdadeiro poeta: Fernando Pessoa:  " Eu, eu mesmo... Eu, cheio de todos os cansaços Quantos o mundo pode dar. – Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu, E até as estrelas, ao que parece, Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças... Que crianças não sei... Eu... Imperfeito? Incógnito? Divino? Não sei... Eu... Tive um passado? Sem dúvida... Tenho um presente? Sem dúvida... Terei um futuro? Sem dúvida... A vida que pare de aqui a pouco... Mas eu, eu... Eu sou eu, Eu fico eu, Eu..." ( Fernando Pessoa)

PRECE de Fernando Pessoa

Poderia ser a minha prece, quem sabe, também a tua... Quem, de alguma forma, não sente da mesma maneira que o poeta? O poeta que se caracterizou como " fingidor ". Porque não acredito eu nele? "Sentir? Sinta quem lê!" E ELE não terá sentido? Há tanto coração e arte no que escreve! ( Celina Seabra) PRECE ( de Fernando Pessoa) "Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu! Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo está - (o teu templo) - eis o teu corpo.  Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.  Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faze com que eu saiba amar os outros como irmão...

Meu Sol

Sol, astro majestoso que acorda a madrugada. Luz ofuscante, raio x estonteante véu diáfano da manhã abrigada, maestro do rouxinol cantante e seu maior amante. Sol, circulo da felicidade e da minha sanabilidade, pílula da curabilidade dos meus instáveis pensamentos. Teus raios são unicamente a verdade, o paraquedas  que me sustenta e rasga a névoa da alma débil e frágil que pulula num mundo paralelo a este: distante, ideal,efémero... És o senhor do  meu  primeiro sorriso, a girandola através da qual se vê o arco-íris de cores que descansa em mim. Paz desejada numa ansiedade descomunal e inexplicável. Abraço aconchegante, és TU! ( Celina Seabra)

Estrelas

A noite fechou-se. As estrelas piscam no céu. Onde eu vivo ainda contemplo as estrelas. E neste contemplar, tantas vezes fugidio, recordo o passado e a escadaria que levava ao andar superior da nossa casa. Os verões eram longos, nessa altura. O tempo passava vagaroso e as noites quentes convidavam as famílias a sentarem-se, cá fora, na rua. As pessoas aproximavam-se, contavam histórias, partilhavam anedotas ou, simplesmente, ficavam ali, em silêncio, usufruindo da aragem morna, noturna. Nessas escadas da casa que fora nossa ( e hoje já não é!) e da qual eu recordo, muito bem, cada canto que a constituía, a família recolhia-se em silêncio e contemplava o céu e os milhares de pontinhos que iluminavam a noite. Li, muitas vezes, sob essa luz. Viajei nesse céu e descobri, através das histórias contadas pelo meu pai, as lendas ligadas à lua e às constelações que serpenteiam esse mar infinito e intocável. Um mar ao qual regressarei um dia - creio... Nas coisas simples de antigame...

A tarde poderia ter sido vulgar

Hoje a tarde poderia ter sido vulgar, porém quando há encontro e cumplicidade, eu deixo de ser singular. Há vozes que reconheço soam-me, elas a familiar,  a tarde que era vulgar deixou-me matéria a recordar. ( Celina Seabra) A tentativa de escrever estas palavras, que podem soar a poesia, surgiu da leitura feita ao poema de Fernando Pessoa que segue abaixo. A tarde poderia ter sido mais uma tarde qualquer... Mas foi diferente. Quando há corações que batem em sintonia e se esforçam pela harmonia, dá-se uma explosão de alegria. E, momentaneamente, afastam-se a solidão, a desilusão e a correria do dia-a-dia. Obrigada, minha fadinhas, pela vossa companhia! AGORA VAMOS À VERDADEIRA POESIA. FERNANDO PESSOA   e a sua FENOMENOLOGIA! A tarde vulgar e cheia De gente que anda na rua, Escurece, azul e alheia, E a brisa nova flutua. Havia verão com o dia, Mas agora, Deus louvado, Primaverou de outonia Sob o largo céu parado. Palavras! Nen...

Fernando Pessoa, a caixinha de surpresas

Mais uma pequena surpresa de Pessoa " A aranha do meu destino": metáfora da sua vida e a de tantos que sentem como ele sentiu, mas não têm a arte de traduzir em palavras a vivência presente. Tal como a teia da aranha resiste à passagem do tempo e se habitua a ali permanecer ( ou será Além?), também eu me sinto presa a um destino que embateu numa encruzilhada... E " sou presa do meu suporte.". A aranha do meu destino Faz teias de eu não pensar. Não soube o que era em menino, Sou adulto sem o achar. É que a teia, de espalhada Apanhou-me o querer ir... Sou uma vida baloiçada Na consciência de existir. A aranha da minha sorte Faz teia de muro a muro... Sou  presa do meu suporte. ( Fernando Pessoa, In Poesia 1931-1935 e não datada)

Fernando Pessoa para todas as idades

Já não sou uma criança, mas a menina de outrora continua viva dentro de mim e, ainda, mais saudosista. As cantigas infantis, os contos tradicionais, as quadras populares continuam a fazer parte do meu álbum memorialista. Hoje, o meu pensamento foi para um muito especial que guardo juntinho às emoções: o poema  Levava eu um jarrinho..., retirado de um conjunto de poemas infantis ( Poemas   para Lili), de Fernando Pessoa. Poeta para todas as idades e para todos os gostos. Vale a pena lê-lo, memorizá-lo, declamá-lo e, quiçá, representá-lo. (Celina Seabra) Levava eu um jarrinho... Levava eu um jarrinho P’ra ir buscar vinho Levava eu um tostão P’ra comprar pão; E levava uma fita Para ir bonita. Correu atrás De mim um rapaz: Foi o jarro p’ra o chão, Perdi o tostão, Rasgou-se-me a fita... Vejam que desdita! Se eu não levasse um jarrinho, Nem fosse buscar vinho, Nem trouxesse uma fita P’ra ir bonita, Nem corresse atrás De mim um rapaz Para ver o que eu fazia, Nada disto ...

Fernando Pessoa, meu herói das palavras

À medida que o tempo passa, os anos avançam, a pele se enruga, as memórias se acumulam, as emoções se extravasam, eu amo mais a poesia daquele que considero o Mestre: Fernando Pessoa! Tudo é dito em tão pouco e, em tão contidos termos, é dita toda a verdade. Que dom foi esse que Deus te deu e não mo transmitiu a mim? Fora eu Pessoa e muito diria, com todos os sentidos que estão à minha disposição e que eu não sei usar. Poder ser TU sendo Eu! ( Celina Seabra) Não Digas Nada! Não digas nada!  Nem mesmo a verdade  Há tanta suavidade em nada se dizer  E tudo se entender —  Tudo metade  De sentir e de ver...  Não digas nada  Deixa esquecer  Talvez que amanhã  Em outra paisagem  Digas que foi vã  Toda essa viagem  Até onde quis  Ser quem me agrada...  Mas ali fui feliz  Não digas nada.  Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"