A noite fechou-se.
As estrelas piscam no céu.
Onde eu vivo ainda contemplo as estrelas.
E neste contemplar, tantas vezes fugidio, recordo o passado e a escadaria que levava ao andar superior da nossa casa.
Os verões eram longos, nessa altura. O tempo passava vagaroso e as noites quentes convidavam as famílias a sentarem-se, cá fora, na rua. As pessoas aproximavam-se, contavam histórias, partilhavam anedotas ou, simplesmente, ficavam ali, em silêncio, usufruindo da aragem morna, noturna.
Nessas escadas da casa que fora nossa ( e hoje já não é!) e da qual eu recordo, muito bem, cada canto que a constituía, a família recolhia-se em silêncio e contemplava o céu e os milhares de pontinhos que iluminavam a noite. Li, muitas vezes, sob essa luz. Viajei nesse céu e descobri, através das histórias contadas pelo meu pai, as lendas ligadas à lua e às constelações que serpenteiam esse mar infinito e intocável. Um mar ao qual regressarei um dia - creio...
Nas coisas simples de antigamente construí a alma que se albergou algures dentro de mim.
Sinto saudades da ingenuidade de outrora e da inconsciência que me fazia feliz.
( Celina Seabra)E aqui está mais um poema de quem admiro muito!
Fernando Pessoa
Tenho dó das estrelas
Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo...
Tenho dó delas.
Não haverá um cansaço
Das coisas.
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?
Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir...
Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão —
Qualquer coisa assim
Como um perdão?
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